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N° 276 : “QUE FAREI DELE?”

Ministérios EFRATA – O Bem & o Mal, a Cada Dia
Domingo, 13 de Novembro de 2016

Na noite de Domingo, 08 de Outubro de 1871, o pregador encerrou sua mensagem encomendando sua audiência: “Eu quero que vocês vão para casa e pensem neste texto; no próximo final de semana, voltem, para decidirmos, nós, o que faremos de Jesus de Nazaré”. O texto bíblico no qual havia acabado de fundamentar sua mensagem era Mateus 27.22: “Que farei, então, de Jesus, chamado Cristo? [perguntou Pilatos]. Disseram-lhe todos: seja crucificado!” (ARC). O pregador era Dwight Lyman Moody (1837-1899). Logo em seguida, Ira Sankey (1840-1908) começou a cantar:
         Hoje o terno Salvador chama
         Vem a mim, te refugiar
         Brama o Juízo, e se aproxima  
         A morte está a rodear [em minha tradução livre]

Ira Sankey nem terminou de cantar o hino. Logo ouviu-se a gritaria, em face do fogo que se avistava avançando sobre a cidade. A maioria das casas e edifícios em Chicago era construída com muita madeira. Na periferia de então, segundo a versão popular, uma mulher – Catherine O’Leary – tinha ido ao estábulo ordenhar leite; a vaca acabou dando um coice, que atingiu em cheio a lamparina de querosene, incendiando rapidamente o feno e o estábulo. O vento ajudou a levar as chamas para toda a cidade. Esta é a versão que se popularizou. Mais provável é que alguém tenha tentado atingir  aquela família de imigrantes irlandeses, e acabou atingindo uma cidade inteira.

Resultado: 300 pessoas mortas, 90 mil desabrigadas, mais de 17 mil construções destruídas. Naquela mesma noite, um dos amigos de Moody (e seu apoiador), Horatius Gates Sppaford (1828-1888), o mesmo que comporia “Sou Feliz com Jesus, meu Senhor” depois de perder as quatro filhas num naufrágio, em 1873, perdeu todos os seus investimentos.

Os ouvintes de Moody, naquela noite de Domingo, também perderam seus bens; alguns deles, a própria vida. Moody prometeu a si mesmo que nunca mais daria uma semana para que seus ouvintes refletissem sobre o que fazer com Jesus. A pergunta de Pilatos não precisou, naquela ocasião, esperar resposta, pois os judeus, incitados por suas autoridades religiosas, já sabiam o que fazer: crucifica-o!

Mas, deixemos que o próprio Jesus nos ajude a responder, como se para nós, hoje, fosse a pergunta –  Que Farei Dele? 
Meu salvador : “A minh’alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou, por extremo em Deus, meu Salvador!” (Lucas 1.46, 47, BCF);
Meu advogado : “Se, todavia, alguém pecar, temos advogado junto ao Pai – Jesus Cristo, o Justo!” (I João 2.1, ARA);
Meu mestre : “Meu Pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto; e assim, serão meus discípulos” (João 15.8, NVI);
Meu amigo : “Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando” (João 15.14, ACF).

Agora, se você quiser fazer dele – Jesus – seu salvador, seu advogado, seu mestre e seu amigo, sabe o que Lhe restará ser, para você? Apenas, e tão somente, seu juiz! “…porquanto estabeleceu um dia, no  qual há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (Atos 17.31, ARA).

Então, pense comigo: em vez de ter que enfrentar Jesus como juiz, não é muito melhor tê-lo como amigo, como Mestre, como advogado, como salvador? Que farei de Jesus, chamado Cristo? – perguntou Pilatos. Os loucos escolheram crucifica-lo, e o terão como juiz deles, no Dia do Juízo. Sua escolha, qual será? Moody se arrependeu de ter dado, aos seus ouvintes, uma semana para pensar… Sugiro que não espere uma semana, nem tampouco um dia sequer!  

Na mensagem cantada de hoje, Lynda Randle (1962-…) canta, para um auditório, junto com sua filhinha, uma das composições do casal  Gaither. Novamente com a ajuda da letra original acompanhada da tradução, logo abaixo,  

Ouça, com nosso
AudioPlayer online (controle de volume à direita)

THAT’S WHAT JESUS MEANS TO ME (1970)
Eis o que Jesus Significa Para Mim
Bill e Gloria Gaither

You can take all my possessions
Você pode tomar todas as minhas posses
All the things that men hold dear

Tudo quanto os homens tanto apreciam
All the precious gifts that this old world can hold
Todos os dotes preciosos que este velho mundo pode suprir
But this love I found at Calvary far exceeds my fondest dreams
Mas este amor que eu encontrei no Calvário
De longe excede todos os meus mais afetos sonhos

It’s a love that can't be bought by this world's gold
É um amor que não pode ser comprado pelo ouro deste mundo

Then you ask me why I love Him, why I choose to walk His way
Então você me pergunta porque eu O amo
Porque escolho andar Seu caminho

Why I find His service sweeter every day
Porque eu considero cada dia mais agradável servi-lO 
It’s the only life worth living
É o único modo de se viver que vale a pena
He has made my world complete

Ele fez meu mundo completo
Oh! That’s what Jesus means to me!
Oh! Eis o que Jesus significa para mim!

Then, each night ‘round sundown my little girl climbs on my knee
Então, cada noite, por volta do crepúsculo 
Minha pequena filhinha sobre em mim

When the clouds of gloom and doubt would hover low
Quando as nuvens de tristeza e dúvida pairarem abaixo
Then she whispers "mommy, I really love you!"
Então ela sussurra "mamãe, eu de amo de verdade!"
All my doubts just seem so small
Todas as minhas dúvidas tão logo parecem pequenas
He has made our home a heaven here below!
Ele fez minha casa um céu aqui embaixo

Then you ask me why I love Him, why I choose to walk His way
Então você me pergunta porque eu O amo
Porque escolho andar Seu caminho

Why I find His service sweeter every day
Porque eu considero cada dia mais agradável servi-lO 
It’s the only life worth living
É o único modo de se viver que vale a pena
He has made our home complete!
Ele tornou completo o nosso lar 
Oh! That’s what Jesus means to me!

Oh! Eis o que Jesus significa para mim!

Bom Domingo, boa semana,
 Ulisses

Notas das citações bíblicas:
ACF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana

ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional

N° 275 : “AS APARÊNCIAS [AINDA] ENGANAM?”

Ministérios EFRATA – O Bem & o Mal, a Cada Dia
Domingo, 06 de Novembro de 2016

 

“HIV”, um dos terrores contemporâneos da medicina, é sigla para “Human Immunodeficiency Vírus” (ou, Vírus da Imunodeficiência Humano); popularmente, é o vírus da AIDS. Na história que envolve o franco-canadense Gaétan Dugas (1953-1984), a ciência diz ter dado um passo à frente, absolvendo-o da culpa. Dugas, que era homossexual, era comissário de bordo da empresa aérea Air Canadá, e acusou o vírus da HIV. Em 1984, ano em que morreu, apenas aos 31 de idade, foi denominado “Paciente O” (“Paciente zero”) pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças” da Califórnia. Isto foi publicado em 1987 pelo renomado American Journal of Medicine. Com isso, por décadas ele foi tido como aquele que introduziu o vírus na América do Norte, depois de uma viagem vindo da África. O vírus se transformou em epidemia.

Recentemente, novos estudos científicos demonstraram que o vírus já havia entrado nos Estados Unidos através de cidadãos vindos do Caribe. A prestigiada revista Nature publicou a ‘descoberta’ de que a nomenclatura não significava, na verdade, “paciente zero”, e sim, “paciente O”, com a letra inicial da palavra “Outside” (ou seja, vindo de fora da Califórnia). Um pequeno engano, não? Dugas foi, depois de trinta anos de sua morte, livrado da culpa de ser o agente de inserção do terrível HIV na América. Na verdade, segundo os cientistas, ele foi um dos que inseriram, mas não o primeiro.  

Enganozinho à toa! Quem não é capaz de confundir “O” com “O”? Isto é, o algarismo da nulidade com a décima-quinta letra do  alfabeto? Se alguém nunca se enganou assim, que atire a primeira pedra. Em quem? Em quem confundiu, lá atrás, ora. Não estou, aqui, ‘canonizando’ a vítima; segundo ele próprio, superou a marca de 2500 parceiros sexuais na América do Norte, até a doença manifestar-se mortalmente.

Estou apenas dando mais um exemplo de como uma simples aparência enganosa pode levar a um julgamento equivocado, e esse julgamento equivocado prolongar-se por muito tempo, com danos irreparáveis. O novo estudo reivindica que o vírus HIV ‘pulou’ de primatas para humanos na África antes de 1967, quando veio a se manifestar no Caribe, chegando aos Estados Unidos na década de Setenta. Mas, somente uma letrinha, confundida com algarismo, iludiu o mundo, e demonizou uma pessoa.

Por isto, há sabedoria na sábia palavra do maior sábio: “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça” (João 7.24, ACF). No episódio em questão, a vítima de julgamento equivocado era ele mesmo, porque diziam que era enganador. Deus advertiu a Samuel que não olhasse para a aparência do primeiro rei escolhido em Israel; apesar da boa aparência, Deus o havia recusado. E acrescenta: “Porque o Senhor não vê como vê o homem. Pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração” (I Samuel 16.7, ARC).  

Às mulheres, o Senhor determina que se preocupem menos com a aparência exterior, e mais com a beleza interior – o que não lhes parece ser fácil (I Pedro 3.3-4). O pior é que, à medida  que os tempos avançam, homens também vão caindo, cada vez mais, no mesmo erro. Assim, o “espírito de fariseu” continua se alastrando: “Ai de vós, que são como sepulcros revestidos de mármore e granito: bonitos por fora; por dentro, decomposição, mau cheiro e imundície” (Mateus 23. 27,28, em minha versão parafraseada).

Não há dúvidas: as aparências continuam enganando, como sempre enganaram. Pode ser por uma letrinha, ou por um discurso ou texto inteiro. Por elas, os julgamentos temerários, injustos, improcedentes também continuam sendo praticados. E, tal como a ocorrência acima ilustrada, podem provocar anos, décadas de estragos entre pessoas amigas, pessoas fraternas, familiares, casais, pais e filhos, etc… Talvez, estragos que se prolongam para além de uma vida, buscando reparos somente depois que ela se vai. Melhor é seguir a sabedoria divina, e combater essa tendência arrasadora, típica da natureza humana deteriorada pelo pecado que entrou no mundo. Quem o introduziu foi o “pecador zero” – Adão, juntamente com sua esposa, Eva. Mas, de lá pra cá, alastrou-se por todos os seus descendentes. Podemos tentar combater a sina… Devemos tentar!…   

Minha oração: “Senhor, tu és o nosso Pai, nós somos o barro, e tu, o nosso oleiro” (Isaias 64.8, ARA); molda-me conforme tua imagem, tua justiça e tua integridade, ó Deus!

Rusty Goodman compôs, não muito tempo antes de ser levado por um câncer, com apenas aos 57 anos de idade, um hino-oração. É a oração cantada para desfecho desta mensagem. A execução pode ser acionada pelo player, após a transcrição da letra.

THE POTTER (1980)
O OLEIRO
Rusty Goodman(1933-1990)

When the Potter gathers up broken pieces
Quando o oleiro ajunta pedaços quebrados 
Of a vessel He wishes to mend (thank God !)

De um pote que Ele pretende colar (graças a Deus
He doesn’t put it back together like a puzzle, Oh, No!

Ele não os ajunta um-a-um como um quebra-cabeças, não, não 
But on the Potters wheel He molds it again. 

Mas ele os molda de novo na roda do Oleiro. 

Lord, don’t let me see the way I used to be
Senhor, não me permita ver a trajetória que trilhei 
Remove the scars that follow the pain

Remove as escaras que se seguem à dor 
Wounds of my shame, bind them up in Your great Name

Feridas que são minha vergonha, domina-as em teu Excelso Nome 
Cast them all into your forgetting sea ! 

Lança-as todas adentro em teu mar de esquecimento 
Take away all the strife, all that followed a wasted life 

Expurga toda discussão, todas as que procedem de uma vida desolada
Tried to build on the dust of a foolish dream 

Que [apenas] tentou se construir na poeira de um sonho tolo 
Just an empty space of time 

Tão somente um espaço vazio no tempo
Somewhere in the corner of my mind 

Em algum lugar, num dos cantos da minha mente
If all the world should recall, don’t let me see !

Se o mundo inteiro me reclamar, não me permita ver. 

   If I should sit among the ashes of the bridges (lembra de Jó ?)
   Se eu me sentar em meio às cinzas das 'pontes' 
   That I’ve burned, O Lord, on my way back home to Thee
   Que já foram jogadas abaixo, ó Senhor, em meu caminho de reconciliação contigo (o compositor lembra a estratégia de guerra, que dinamita pontes que ficam para trás, no caminho, impedindo o acovardado caminho de retorno – Lucas 9.62)
   Don’t let me find one single thing among the ruins

   Não me permita encontrar um só objeto em meio aos escombros
   That could bring to my mind one memory!

   Que pudesse trazer à minha lembranças [nocivas] memórias(Lamentações 3.21

Lord, don’t let me see the way I used to be
Senhor, não me permita ver a trajetória que trilhei 
Remove the scars that follow all my pain

Remove as escaras que se seguem à dor 
And wounds of my shame, bind them up in Your great Name 

E feridas que são minha vergonha, domina-as em teu Excelso Nome 
Cast them all into your forgetting sea !

Lança-as todas adentro em teu mar de esquecimento !
Take away all the strife, all that followed a wasted life 

Expurga toda discussão, todas as que procedem de uma vida desolada
Tried to build on the dust of a foolish dream 

Que [apenas] tentou se construir na poeira de um sonho tolo 
Down that corridor of time don't ever let them come to mind

No curso do corredor do tempo, não permita que venham à mente
And if all the world should recall, don’t let me remember them at all 

E se o mundo inteiro me reclamar, não me permita trazer tudo isto à lembrança 
And if all the world should recall, don’t let me see!
E se o mundo inteiro me reclamar, não me permita ver.

AudioPlayer online (controle de volume à direita)

Bom Domingo, boa semana,
 Ulisses

Notas das citações bíblicas:
ACF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana

ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional

N° 33 : “FOGO AMIGO…”

Ministérios EFRATA – O Bem & o Mal, a Cada Dia
Domingo, 20 de Novembro de 2011

Na semana passada, por motivo de viagem e dificuldade de acesso à internet, não escrevi a mensagem semanal. Volto a fazê-lo hoje, na suposição (quem sabe, presunçosa) de trazer mais uma palavra. Exatamente 110 anos atrás, com a renúncia do primeiro presidente republicano brasileiro (Deodoro da Fonseca), assumia a presidência o seu vice, Floriano Peixoto. Esse alagoano de Maceió, agora presidente, havia sido militar de destaque na campanha da Guerra do Paraguai (1864-1870). Aquele período da guerra ainda estava sob o regime monárquico do império brasileiro. Em 1889, quando a revolução maçônico-jurista-positivista depôs o regime monárquico de Dom Pedro II, instaurando a república, Floriano Peixoto era o chefe da guarda do Visconde de Ouro Preto. Este, político mineiro nascido na cidade que lhe dá a alcunha, era, em 1889, o presidente do conselho de ministros de Dom Pedro II. Era, portanto, uma espécie de "primeiro-ministro", e monarquista convicto. Bradada a revolução republicana, o Visconde de Ouro Preto deu ordens ao então comandante militar Floriano Peixoto, para que reprimisse a revolução… Se preciso fosse, segundo a ordem, eliminando os revoltosos. Consta que Floriano Peixoto resistiu à ordem do Visconde, dizendo que não seria capaz de chegar a este extremo no cumprimento das ordens. Vou tentar, em parte com minha imaginação, reproduzir o diálogo que se deu :

– Comandante Peixoto, é agora seu dever proteger o império dessa revolução; reúna os homens, cumpra o seu dever, se preciso for, usando a força e eliminando os revoltosos.

– Sinto muito, senhor, mas não poderei chegar a este extremo – eliminar os revoltosos.

– Mas, como não? Na guerra do Paraguai quantos foram os que você, com seus homens, eliminou ?  Não foram muitos ?

– Muitos, senhor, com certeza.  Mas, lá, na guerra contra o Paraguai, tínhamos inimigos pela frente; aqui, não: somos todos brasileiros!

   Que resposta: "lá, tínhamos inimigos pela frente; aqui, não: somos todos brasileiros". Esta frase, eu não precisei imaginar: a história a registrou! Se Peixoto houvesse feito como queria o presidente ministerial da coroa, teria produzido uma espécie daquilo que se costuma denominar "fogo amigo". Em muitos casos, o "fogo amigo" ocorre por descuido. Mas, em outros casos, pode ser por traição, ou por repressão.Teria sido este último, o caso. Nas nossas lides, estamos sujeitos a enfrentar "fogo amigo" também. Para ser mais honesto, devo dizer que estamos sujeitos, tanto a enfrentar, quanto a produzir. Aqui e acolá, podemos ser flagrados na posição passiva (sofrendo-o), mas também na ativa (fazendo-o). "Porque, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem? (I Coríntios 3.3) 

   Não é "fogo amigo" quando nos colocamos a digladiar entre irmãos de uma mesma igreja, ou entre irmãos de uma mesma fé, por causa de razões que dificilmente poderiam justificar a contenda? Não é "fogo amigo" quando, por motivos fúteis, alunos de uma mesma sala de aulas se mobilizam com o fim de alimentar discórdias e desavenças com outros colegas, dada a diversidade de mentalidades, como se lhes fosse inviável permanecer  dentro do mesmo recinto e respirando o mesmo ar? Quando eu fazia faculdade de engenharia, em Governador Valadares, no terceiro ano se faziam as  divisões de turmas conforme a modalidade escolhida. Assim, lá na década de 1970, passei a ter colegas numa mesma sala, com os quais ainda não havia convivido. Não demorou muito, e um grupo majoritário da classe "patenteou" uma nomenclatura de auto-denominação: eram eles a "galera". A "galera" só tinha gente "feliz", gente brincalhona, querendo mostrar que estava de bem com a vida. Geograficamente, também estava demarcada – o fundo da sala. Mas não estava de bem, não tanto quanto, com os estudos. E eles se incumbiram de criar a "logomarca" dos demais, que não eram da "galera"- o outro grupo foi por eles denominado com uma alcunha muito pejorativa, ao qual frequentemente tripudiavam. Estes, frequentemente tripudiados, eram os que tinham espaço geográfico diferente – da metade para a frente na sala; também era o grupo mais interessado em levar a sério os estudos. Dali para diante, a convivência foi uma sucessão de amostras de "fogo amigo", com algumas tréguas de alívio.  

   Pergunto ainda: Não é "fogo amigo" quando, por questões de importância inteiramente secundária, membros de uma mesma família se permitem  abrigar um clima de hostilidades que, em talvez a totalidade dos casos, razões puramente egocêntricas respondem pela asfixia das boas relações? Na construção civil, quando se prepara uma forma em madeira (ou qualquer outro material próprio) para receber uma estrutura em aço, a ser revestida e preenchida de concreto, é imprescindível que o concreto lançado seja bem adensado, bem misturado, bem homogeneizado. Do contrário, retiradas as formas, aparecerão as "brocas", horrendos buracos sem concreto que expõem a ferragem, tais quais feridas na carne humana que expõem os próprios ossos, causando grande risco à estabilidade da estrutura. Pois bem: Não é fogo amigo quando cônjuges se agridem sem razão, por acentuado sentimento animal, deixando à mostra ossos doentes da ferida, "brocas" que minam a estabilidade das estruturas? Não é "fogo amigo" quando colegas de ministério, ou de lides missionárias, ou de esforços de empreendimento pelo Senhor da Seara se hostilizam por causas pequenas, diante do tamanho da causa daquEle que os arregimentou?

   Me lembro bem do Rev. Noé de Paula Ramos, com um relato que dele mesmo ouvi. Certa feita, no mandato do Presbítero Paulo Breda à frente da IPB, Rev. Noé era seu vice. Estando ele no exercício da presidência, numa das reuniões da década de 1980, um certo pastor contumaz em usar o idioma de forma áspera e ferina contra seus pares, o fêz como costumava fazer contra aquele que presidia o Supremo Concílio da IPB. Calmamente aguardando o fim da espumante vociferação, Rev. Noé de Paula Ramos limitou-se a comentar, ao término do falatório do conciliar: – Estão vendo os irmãos? Se este destacado irmão e colega assim se pronuncia, aqui dentro do Supremo Concílio, contra o vice-presidente que ora preside o Supremo Concílio da Igreja, o que não é capaz de fazer ele com outros irmãozinhos lá em seus concílios menores?

    "Fogo amigo" é um desastre. Sempre é fruto de um esquecimento, um momentâneo (às vezes não tão momentâneo) e breve (às vezes não tão breve) lapso de memória, de que o verdadeiro "inimigo" está invisível, mas não é o irmão de fé, não é o colega de sala, não é o familiar, não é o colega de ministério, etc. Ele está "do outro lado", ou então está "atrás", enquanto atiça. Nós não o vemos porque, além de invisível, esse verdadeiro inimigo se camufla. Camuflado, faz-nos pensar com frequência que ele nunca está envolvido nas situações de "fogo amigo". O pior é que está. E como está! No entanto, esta "ocupação" não pertence às atribuições do "Reino do Filho do Seu amor"; pertence, antes, aos negócios de interesse do "império das trevas", do qual o Filho nos libertou(Colossenses 1.13) ! "Sede sóbrios, e vigilantes: o diabo, vosso adversário, anda em derredor, procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo" (I Pedro 5.8,9) A Bíblia fala de uma atividade típica do adversário: ele se ocupa de ser acusador "dos nossos irmãos" (Apocalipse 12.10). Numa mensagem que já preguei algumas vezes, costumo lembrar que a nomenclatura "diabo" vem de "diabolos" (grego), que significa, literalmente, "o que lança contra", ou "acusador".É isso – Ele é sempre o instigador de contendas, em suas estratégias ardilosas : 

1) Instiga contenda do homem para com Deus (fêz assim já no princípio, no Paraíso do Éden…)

2) Instiga contenda de Deus para com o homem (fêz assim com Jó, e não apenas com ele… )

3) Instiga contendas de nós outros para com nossos próximos (parece que é a sua mais frequente ocupação…)

    Esta última instigação é a que produz o "fogo amigo". Frequentemente, esse estrategista maligno se aproveita de nossas fraquezas, de nossas debilidades, para provocar o seu ardil. As feridas da existência, as "escaras" do leito de dor, o vazio dos dias e das noites sem sadio exercício espiritual, as tentativas meramente humanas de construir preenchimentos para as necessidades existenciais e as carências da alma… são tipicamente as situações de que ele se aproveita. E aí, enfraquecidos, vulneráveis, nos tornamos presas fáceis. É preciso resistir-lhe firmes na fé. Note bem – três exigências:

1) Resistir…

2) Firmes…

3) Na fé…

    Mas, isto já seria outra mensagem… Apenas lembrando: "Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram – eis que se fizeram novas!" (II Coríntios 5.17) 

   Para deleite dos ouvidos e da alma, hoje, escolhi um hino muito tocante a mim. Rusty Goodman (irmão de Howard Goodman e cunhado de Vestal) o compôs não muito tempo antes de ser levado por um câncer, apenas aos 57 anos de idade. Fala o hino da maneira como o "Oleiro" costuma tratar conosco em nossas feridas e "escaras". Se o "barro" for dócil e maleável nas mãos do "Oleiro", o resultado é sempre um "vaso novo". Abaixo, coloco a letra de língua inglesa, para aqueles que quiserem apreciar a poesia original… O áudio em nosso idioma traz a versão  já conhecida e cantada…

 THE POTTER (1980)
 O OLEIRO
 Rusty Goodman(1933-1990)

When the Potter gathers up broken pieces
Quando o oleiro ajunta pedaços quebrados 
Of a vessel He wishes to mend (thank God !)

De um pote que Ele pretende consertar (graças a Deus
He doesn’t put it back together like a puzzle, O No!

Ele não os ajunta um-a-um como um quebra-cabeças, não, não 
But on the Potters wheel He molds it again. 

Mas ele os molda de novo na roda do Oleiro. 

Lord, don’t let me see the way I used to be
Senhor, não me permita ver a trajetória que trilhei 
Remove the scars that follow the pain

Remove as escaras que se seguem à dor 
Wounds of my shame, bind them up in Your great Name

Feridas que são minha vergonha, retém-nas [em Tuas mãos] em teu Excelso Nome 
Cast them all into your forgetting sea ! 

Lança-as todas adentro em teu mar de esquecimento 
Take away all the strife, all that followed a wasted life 

Expurga toda discussão, todas as que procedem de uma vida desolada
Tried to build on the dust of a foolish dream 

Que [apenas] tentou se construir na poeira de um sonho tolo 
Just an empty space of time 

Tão somente um espaço vazio no tempo
Somewhere in the corner of my mind 

Em algum lugar, num dos cantos da minha mente
If all the world should recall, don’t let me see !

Se o mundo inteiro me reclamar, não me permita ver. 

   If I should sit among the ashes of the bridges (lembra de Jó ?)
   Se eu me sentar em meio às cinzas das 'pontes' 
   That I’ve burned, O Lord, on my way back home to Thee
   Que já foram jogadas abaixo, ó Senhor, em meu caminho de reconciliação contigo
   o compositor lembra a estratégia de guerra, que dinamita pontes que ficam para trás,
   no caminho, impedindo o acovardado caminho de retorno – Lucas 9.62)
   Don’t let me find one single thing among the ruins

   Não me permita encontrar um só objeto em meio aos escombros
   That could bring to my mind one memory!

   Que pudesse trazer à minha lembranças [nocivas] memórias(Lamentações 3.21

Lord, don’t let me see the way I used to be
Senhor, não me permita ver a trajetória que trilhei 
Remove the scars that follow all my pain

Remove as escaras que se seguem à dor 
And wounds of my shame, bind them up in Your great Name 

E feridas que são minha vergonha, retém-nas [em Tuas mãos] em teu Excelso Nome 
Cast them all into your forgetting sea !

Lança-as todas adentro em teu mar de esquecimento !
Take away all the strife, all that followed a wasted life 

Expurga toda discussão, todas as que procedem de uma vida desolada
Tried to build on the dust of a foolish dream 

Que [apenas] tentou se construir na poeira de um sonho tolo 
Down that corridor of time don't ever let them come to mind

No curso do corredor do tempo, não permita que venham à mente
If all the world should recall, don’t let me remember them at all 

Se o mundo inteiro me reclamar, não me permita trazer tudo isto à lembrança 
And if all the world should recall, don’t let me see!
E se o mundo inteiro me reclamar, não me permita ver.

AudioPlayer online (controle de volume à direita)

Bom Domingo, boa semana,
 Ulisses

Notas das citações bíblicas:
ACF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil

ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional