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Nº 021 – “ILUMINADO, CONTENTAMENTO”

Ministérios EFRATA – Arautos de Vida
Outubro de 2015

A história dos “arautos de vida” de hoje não será tão breve; definitivamente, não pode ser, não merece ser. Aliás, se você está começando esta leitura à espera de uma historinha breve, te aconselho a ir logo desistindo, porque será impossível contar esta história assim, a galope. Mas, se não ler, em algum momento há de se arrepender – disto estou certo…

Marco Antonio e Isabel Cristina são amigos meus. São daqueles amigos dos quais tenho um lamento: o de não poder usufruir, mais amiúde, a convivência que eu gostaria de ter; se tivesse, o maior beneficiado seria eu, com certeza. Após oito anos de casados, queriam ter filhos; entretanto, aquEle que é o único que pode prove-los a um casal não queria (como não quis, do jeito que eles queriam). O que havia de errado? Para os médicos, nada havia de errado; logo, o único diagnóstico razoável foi – Deus não o quis! É certo que Marco e Cristina conhecem a Deus, de longa data. Mas, não duvidem de que houve um “vulcão de sentimentos”, em decorrência da impossibilidade que se mantinha, não obstante as providências para debelar a frustração. Chegou o dia em que o Marco Antonio declarou à esposa o desejo de adotar; para ele, seria como se fosse um filho biológico, segundo declarou a ela. No entanto, Isabel Cristina nem quis saber de falar-se nisto (“Nunca!”).  

Durante quatro anos, Marco Antonio orou a Deus a respeito, sem forçar a barra junto à esposa. Já se ultrapassavam onze anos de matrimônio, a dois; a dois, não: a três, porque Deus sempre fez parte do lar deles. Um dia de Domingo, Marquinho voltava para casa com um livro debaixo do braço, junto com sua Bíblia, mas sem nada falar à esposa. A curiosidade dela se aguçou para saber o título do livro – mais do que a curiosidade de quem agora está lendo… “Como Adotar uma Criança”, era o título, suficiente para elevar a temperatura das reações indignadas de uma aspirante à maternidade, de longa data ‘frustrada’.

– Onde você arrumou isso? Perguntou ela.

– Ganhei de presente…

Adivinha quem primeiro leu o livro? Adivinhou: a Isabel Cristina! Simplesmente devorou o livro naquela tarde de Domingo. À noite, após o culto, disse ao marido que estava pronta para a adoção, se Deus assim quisesse… Amanhã mesmo, respondeu ele.

Isabel Cristina e Marco Antonio entraram num grupo de sessenta casais, à espera da adoção. Meses e meses de palestras, entrevistas, longo processo. Como diz ela: “Fiquei dois anos ‘grávida’! E é muito ruim ficar grávida por mais de um ano”… Chegou o dia, mas tinha que ser decisão rápida, porque a mãe biológica de um menino que estava para nascer nem queria levá-lo para casa. O casal, que já havia decidido não exercer direitos de escolha sobre cor, cabelos, condição, ou características outras (mesmo que não fossem com a letra “c”), recebeu aquele menino bem na véspera dos dias de carnaval de fevereiro de 2002. Quando a nova 'mãe' o viu, pressentiu que havia algo de “imprevisto” (meu primeiro ímpeto foi redigir “algo de errado”, mas corrigi esse ímpeto imaturo a tempo). O garoto, na primeira noite no novo lar, não conseguiu ingerir uma gota sequer de leite… Pela manhã, a primeira consulta com a pediatra trouxe o diagnóstico: Síndrome de Down. Para ampliar o desafio, também uma estenose duodenal, a prejudicar a nutrição, demandando cirurgia.

Marco Antonio e Isabel Cristina, naquele dia, fizeram mais duas coisas importantes e relacionadas: choraram, choraram muito pelo seu filhinho; e decidiram que seria a primeira e última vez que iriam chorar, diante do Deus que conhecem, pela situação daquela criancinha que estava em seus braços. Para a cirurgia, a necessidade documental. A assistente social do hospital tinha deixado a questão documental para depois, por ser véspera de carnaval. Mas, no sábado de carnaval já era necessária a intervenção. Precisavam, então, ao menos de um termo de doação da mãe biológica, preferencialmente redigido à mão. E lá foram eles, até o município de Ribeirão das Neves, procurar aquela menina, levando junto o recém-nascido, todo arrumadinho. Memórias da Bíblia vieram à mente da mãe adotiva: memórias de Abraão, indo com seu filho, Isaque, a Moriá (Gênesis 22, para quem precisa de socorro)… Ao chegar em Neves, um senhor vem à porta:

– É aqui que mora a fulana, que teve um bebê recentemente? – perguntou a Cristina, enquanto o Marco ficava com a criança no carro, metros de distância.

– É sim, mas o bebê morreu na maternidade, respondeu o avô da criança.

A conversa com a mãe biológica foi, então, reservada. Isabel Cristina chegou a colocar a criança nos braços da verdadeira (?) mãe, que o rejeitou, preferindo que a nova 'mãe' ficasse com ele. Assim, o termo de doação foi obtido. Cristina orou ao Senhor ali mesmo, oração compartilhada entre as duas, à frente da criança, ainda tão pequena; também, perante o Altíssimo. A menina havia confirmado que sua família pensava que o garoto tinha morrido na maternidade. A oração da nova 'mãe' com a mãe biológica, diante de Deus, afirmou:

– Senhor Deus, ela não quer o filho, então eu o quero. Ele não morreu: está vivo e viverá para a glória do Senhor, viverá para que a luz de Jesus brilhe através dele; por isto, seu nome será Lucas, que significa ‘iluminado’.

A cirurgia correu bem, mas houve septicemia no pós-cirúrgico. O médico chamou os ‘pais’ para se despedirem da criança, porque não passaria daquela noite. Mais outra oração, pedindo ao Dono da Vida que resgatasse seu filhinho, mas assumindo logo que a vontade de Deus fosse feita, porque ela é boa, agradável e perfeita. Lucas sobreviveu, miraculosamente, aos olhos dos que o assistiam no hospital. Foram trinta dias com o casal se revezando em sua companhia, no restabelecimento. Tal foi seu desvelo que, com a ajuda da assistente social do hospital, testemunhando em favor do carinho daqueles pais, o juiz já lhes deu a certidão de nascimento definitiva do processo de adoção; em situação normal, demoraria cerca de um ano.

Logo que saíram os três do hospital, levando para casa o Lucas, adivinhem o que o casal combinou, sob iniciativa de voz do Marco Antonio?

– Já que o processo do Lucas demorou dois anos, que tal começarmos um processo de adoção de uma segunda criança logo?

Naquela noite, Isabel Cristina orou ao que habita nos Céus e controla o Universo:

– Senhor Deus, sei que não sou digna de pedir nada, mas, em nome do meu salvador Jesus Cristo, peço a permissão para tomar conta de mais uma criança. Gostaria que ela viesse a nós com dois meses de idade, porque, neste período já passaram as cólicas, ocasião em que ficamos sem dormir, e o Senhor sabe o quanto o sono é importante pra mim.  

Pedido um tanto inviável, quase impossível, não? Mas, foi assim que preencheram a ficha de proposta no Juizado, pretendendo uma menina. Todo mundo que milita nesse âmbito sabe quão mais difícil é a adoção de meninas, mais preferidas, em geral. Lucas tinha onze meses de idade, e toca o telefone da casa. Do Juizado, foi dado a Isabel Cristina e Marco Antonio o prazo de exatas duas horas para decidir por uma menina que lhes era destinada. Na verdade, o casal foi escolhido pelo juizado. Qual a idade da menina? Dois meses de idade! São os ‘impossíveis’ que se tornam ‘possíveis’, quando o Deus dos ‘impossíveis’ assim queira. Lá chegando, a assistente social começa a falar das características, no que foi interrompida pelo Marquinho:

– Não precisa dizer nada dela, porque a menina que está aí dentro é a menina que Deus enviou para nós; não precisamos saber sobre cor, se é saudável ou não, porque se não for, vamos cuidar dela assim como cuidamos do nosso outro filho.
– Vocês não poderão levá-la, sem antes saberem alguns detalhes sobre ela:  A mãe nos procurou para entregá-la assim que nasceu. Uma escrevente deste juízo a recebeu, e como a criança chamou atenção por ser tão graciosa, a escrevente achou que a mãe poderia se arrepender e fez uma proposta, diante do juiz. A proposta foi que ela (escrevente) iria cuidar da criança em sua casa, até a menina completar dois meses de idade, prazo para a mãe se arrepender, e que, após esse dia a escrevente iria entregar a criança ao juiz para tomar as providências para adoção. A mãe e o juiz acataram
– esclareceu a assistente. Dois meses depois, a mãe biológica confirma a doação, e a escrevente a traz ao juiz. Marco Antonio e Isabel Cristina foram escolhidos: primeiro, porque Deus assim o quis; segundo, por causa do histórico com o Lucas, e da ficha preenchida. Alguém ainda tem dúvidas de que Deus responde orações, se assim quiser? Agora, seria a segunda filha de Isabel Cristina e Marco Antonio. O histórico com o Lucas e a ficha pesaram na decisão judicial, que estava prestes a se confirmar.  O nome da menina seria Letícia, que significa “contentamento”, razão da escolha do casal. 

Lucas (“iluminado”) veio ao mundo em 05 de Fevereiro de 2002, e veio ao casal logo que nasceu; Letícia (“contentamento”) veio ao mundo em 18 de Março de 2003, e veio ao casal com dois meses de idade, do jeito que pediram ao Senhor. Lucas encanta pelos aspectos mais peculiares e surpreendentes de seu dia a dia. Tem uma vitalidade quase inesgotável. Letícia gosta de jogar vôlei, e ama as gincanas bíblicas, nas quais, invariavelmente fica em primeiro ou em segundo lugar. Ambos amam acampamentos da igreja, bem como a Escola Bíblica Dominical. Letícia, ainda que mais nova, tem sido estímulo para o Lucas: para  falar, para andar, para cantar, e assim por diante. Afinal, ela é a sua querida “rimã”! Aos sete anos de idade, Letícia já queria se tornar membro da igreja, mediante profissão de fé pública, habilitando-se a receber o sacramento eucarístico da Ceia. Aos nove anos, cobrou da própria mãe, quando esta participava da Ceia na igreja:

– Mãe, você está me privando dessa bênção! Foi o suficiente para a mãe encaminhar a filha à profissão de sua fé, através de um dos pastores. 

O casal decidiu falar a verdade aos filhos. Letícia tinha quatro e Lucas tinha cinco, quando já ouviam as histórias de um livro, chamado “Filhos do Coração”. Eram as histórias de um casal que não podia ter filhos e queria adotar; do outro lado, uma mãe que podia ter (e teve) um filho, mas não tinha como criá-lo, levando-o àquele casal. O Lucas, naquela noite, já dormia; mas Letícia, não. A lágrima que rolou dos olhos daquela menina, aos quatro anos de idade, escorreu nos ombros de sua mãe.   

– Mãe, por que ela não me quis? Imagina o aperto no coração e na laringe da Cristina, que apenas respondeu (um tanto sem ar para respirar) não saber, nem ter como explicar, antes de romper em choro quase incontrolável…   

– Mãe – disse a pequena Letícia, acariciando os cabelos de sua mãe – não se preocupe: eu vou te amar para sempre! A esta altura, é oportuno registrar uma declaração significativa desse casal da nossa história de hoje:– Em todos os momentos de nossas vidas, devemos contar com a graça de Deus. Somente a graça nos faz caminhar… [“A tua graça é melhor do que a vida; meus lábios te louvam” (Salmo 63.3, ACF)]. 

Mas, havia, também, outro livro, de leitura diária – um livro de "capa preta", já conhecido dos pais! Esse casal tem ensinado Lucas e Letícia os caminhos de Deus, nos caminhos de Deus! Um dos ensinos tem sido o de ter coração generoso para repartir, doar, dividir. E, não apenas doar o resto e o inservível: doar até o melhor. No Natal de 2005, Letícia havia ganho de sua mãe, de presente, uma grande e linda boneca. Por volta de seus quatro anos de idade, num dia de ajuntar doações para levar para a escola, lá vem a Letícia com sua boneca nova.

– Letícia, essa boneca é nova, comprei com tanta dificuldade, você ganhou no Natal; nem acredito que você vai incluí-la na doação…

– Mãe, eu adoro esta boneca; mas, não foi você quem me ensinou que devemos doar o melhor que temos?   Ooops! Lição ministrada, lição praticada, lição reaprendida! 

Em Letícia, é claro o fruto da salvação; em Lucas, é clara a alegria de andar com Jesus! O amor de ambos, um pelo outro, pelos pais, pela família (que também os ama) e por Deus (que os ama mais que qualquer outro) é visível a todos. O Lucas apresenta a “rimã” com orgulho onde quer que esteja. Letícia leva comidinha na cama do Lucas, quando ele está doente. A Letícia já aprendeu a contar histórias para o irmãozinho; está treinando para ensinar a Bíblia (o "livro da capa preta") a outras crianças. Um cuida do outro, um ora pelo outro. Marco Antonio, Isabel Cristina, Lucas e Letícia formam, não o lar que o casal sonhou, logo que se casou: formam o lar que Deus idealizou para eles, no qual têm muito mais realizações e gratificações do que naquele, anteriormente sonhado.

Sabe o que eu digo? Eu digo que, de uma maneira inalcançável pela via da razão, inexplicável pela via das palavras, “Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que Ele nos concedeu” (Romanos 5.5, NVI), fazendo uso das palavras do apóstolo. Marco Antonio, Isabel Cristina, Lucas (“iluminado”) e Letícia (“contentamento”), numa história que compreende anos de lutas, mas também de vitórias, de abandonos, e também de amor praticado, porquanto derramado do céu, são “arautos de vida”. E, como são!  

Quando Noé soltou a pomba na janela da arca, depois de todo aquele dilúvio que cobriu (e destruiu) a terra (está lá, em Gênesis, entre os capítulos 6 e 9, inclusive), e a pomba trouxe a Noé o raminho de  oliveira no bico, a mensagem era clara, do jeito que Deus tinha dito: o dilúvio não será para sempre… Haverá vida, outra vez, e ainda há esperança! Confira, especialmente em Gênesis, capítulo 8. Concordemente com a nossa mensagem, nosso hino-tema é também mensagem de arautos de vida. Mesmo que o 'dilúvio' seja longo e hostil, não vai chover para sempre; há vida, depois dele… 

Nosso hino temático também fala disto. Na voz suave de Cynthia Clawson.

 Mais abaixo, letra e tradução, se quiser acompanhar…

IT   WON’T    RAIN   ALWAYS…  (1981)
NÃO VAI CHOVER PARA SEMPRE…
Letra : Gloria Gaither (1942…)
Música : Bill Gaither (1936…) & Aaron Wilburn (1950…)

Someone said that in each life:
Alguém disse que em cada vida 
Some rain is bound to fall:
Alguma chuva é fadada a cair
And each one sheds his share of tears:
E cada um entorna seu tanto de lágrimas
And trouble troubles us all:
E problemas afetam a todos nós
But, the hurt can't hurt forever:
Mas, a dor não pode ferir para sempre
And the tears are sure to dry…:
E as lágrimas por certo hão de se estancar… 

And it won't rain always:
E não há de chover para sempre
The clouds will soon be gone:

As nuvens logo se dissiparão
The sun that they've been hiding:
O sol que elas têm ocultado
Has been there all along…:
Tem estado lá, em todo o tempo…
And it won't rain always:
E não há de chover para sempre
God's promises are true!:
As promessas de Deus são reais
The sun's gonna shine in His own good time:
O sol há de brilhar no tempo próprio Dele [Deus]
And He’s gonna see you through!…:
E Ele vela por ti…
The sun's gonna shine in God's own good time:
O sol há de brilhar no tempo próprio Dele [Deus]
And He will see you through!…:

E Ele há de velar por ti! …

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Abraços
Ulisses

Notas das citações bíblicas:
ACF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional