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N° 214 : “QUEM TÁ FALANDO…”

Ministérios EFRATA – O Bem & o Mal, a Cada Dia
Domingo, 02 de Agosto de 2015

"Olha só quem tá falando!” Foi essa a exclamação de um apresentador de programa de rádio, outro dia, a respeito de determinada personalidade, diante do que disse esta. Num linguajar bem coloquial, é essa a frase típica eventualmente pronunciada por quem ouve um pronunciamento, e rejeita tal pronunciamento, por conta da suposta ausência de credencial de quem fala. Usualmente, acontece em casos de uma admoestação ou exortação, quando se lembra que quem pronuncia já tenha quebrado o princípio que reivindica.  Se o mentor já infringiu uma lei moral, é desqualificado para dar lição de moral… É como se pensa.

Por um lado, isto tem certo grau de verdade: é muito pertinente que os modelos de princípios (pais, professores, líderes religiosos, legisladores, etc…) sejam bons praticantes do que prescrevem, para não verem invalidadas sua autoridade, ante às prescrições. Mas, há um certo limite, e o repúdio não pode ser assim, tão rigoroso, generalizadamente: sob esta hipótese, não escaparia ninguém, a não ser Jesus, o Irrepreensível (Hebreus 4.15).

Pense comigo, por curiosidade: você sabe que há 150 salmos na Bíblia, certo? Você sabe que nem todos foram escritos por Davi, o rei de Israel, certo? Te socorro logo: segundo a compreensão majoritária, há certeza de que Davi escreveu pelo menos 73 dos 150 salmos; se passar disto, não é muito. Muito bem! Sabe-se que, a certa altura, cometeu ele dois graves pecados: adultério com Bate-Seba, mulher de Urias, e o homicídio indireto  de Urias, esposo de Bate-Seba, para encobrir o adultério, conforme os registros de II Samuel 11. As conseqüências, sem dúvida, foram gravíssimas. Pergunto: será que o Espírito de Deus ainda usou Davi para escrever salmos devocionais, ou salmos didáticos, depois desse lamentável episódio? Respondo, em dois termos: sim e, provavelmente, ainda com a maioria dos 73 que escreveu. O adultério de Davi com Bate-Seba ocorreu aproximadamente na metade do seu mandato real; é muito provável, porém, que o número de seus salmos, escritos após o episódio, tenha superado bem a metade. E, uma ouutra curiosidade interessante: tal como sugere Charles Spurgeon (1834-1892), o maior salmo, que concentra seu teor nas riquezas da Palavra de Deus – o Salmo 119 – parece ter sido escrito ao longo de toda a vida de Davi, “o diário real de Davi”– antes e depois do lastimável episódio.

Bem! O que quero dizer com isto? Que pecados devem ser ignorados, tolerados, ou subestimados? Não! Que os que detêm posições de relevância (pais, mestres, líderes religiosos, líderes civis, etc…) ficam à vontade em suas missões, mesmo se cometerem erros contra os quais pregam? Absolutamente, não! Mas, antes de repudiar o conselho de um pai, ou de uma mãe, o conselho de um líder ou de um mestre, pense duas vezes. Somos todos falíveis! Erros ocasionais, por conta das fragilidades humanas, não devem receber o mesmo rigor de julgamento que erros sintomáticos e contumazes. Jesus mesmo disse à mulher adúltera: “Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor. Então disse Jesus: Nem eu tampouco  te condenarei; vai, e não peques mais”  (João 8.10,11, BCF). Ninguém se iluda: a pergunta de Jesus – “ninguém te condenou?” – não significou ‘ninguém achou erro em ti?’, mas sim ‘ninguém executou a sentença cabível?’… Erro, indubitavelmente houve. Mas, Jesus, que era o único apto a executar a sentença condenatória, não a executou; os acusadores também não a puderam executar, por causa da cláusula –“Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela” (João 8.7, NVI).

Se, além de Davi, Deus fosse considerar o passado de Pedro, Paulo ou vários dos outros personagens bíblicos, falíveis como nós (mas não contumazes, nem detratores da lei de Deus), não os teria usado como usou. Deus não nos dá pais perfeitos e infalíveis, mestres perfeitos e infalíveis, líderes perfeitos e infalíveis. Tampouco nós, sob a tendência de cobrar-lhes perfeição, jamais seremos perfeitos (aqui no mundo), quando estivermos investidos nas mesmas funções. Na fragilidade de cada um, procurando fazer o melhor, o mais sensato, o mais correto, diante de Deus, em face de suas responsabilidades por ele comissionadas, são passíveis de erros. A eles convém buscar sempre os reparos e o aprimoramento necessários.  Perfeito, só um, e está no céu! Assim sendo, antes de exclamar – “Olha só quem está falando!”, pense um pouco mais.  Para cada “argueiro” (do grego karphos, cisco de dimensões diminutas) em olhos alheios, pode haver uma “trave” (do grego dokos, palavra usada para grandes peças de madeira, usadas para vigas ou escoras de sustentação em edificações) em olhos próprios (conforme Mateus 7.1-5).

Uma mensagem musical expressiva, para terminar. Seu compositor foi prolífico: mais de mil composições, incluindo trinta e cinco cantatas. Encontra-se entre os compositores cristãos de maior sensibilidade musical e, como já dito, é um dos meus prediletos. A cena que ‘inspirou’ esta composição foi dupla: o olhar de Jesus a Pedro, quando este pecou, negando-o antes da crucificação, e o terno olhar de Jesus ao mesmo Pedro, quando, após a ressurreição, comissionou-o a apascentar suas ovelhas.

HIS WONDERFUL LOOK OF LOVE (1958)
SEU MARAVILHOSO OLHAR

John Willard Peterson (1921-2006) 

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Boa semana, até próximo Domingo, se Deus quiser (Tg 4.15) !
Ulisses

Notas das citações bíblicas:  
ACF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional