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N° 103 : “GRAÇA, MAIOR QUE MEU PECADO…”

Ministérios EFRATA – O Bem & o Mal, a Cada Dia
Domingo, 14 deAbril de 2013

Na semana anterior a esta, antes da viagem que até me privou de elaborar e mandar a mensagem dominical, recebi uma mensagem dessas de "auto-ajuda", das que chegam pela internet, remetendo-me a uma página de internet; a página contem diversas citações de pensadores sobre um assunto que tem trazido um certo incômodo às minhas reflexões pessoais, já desde algum tempo.

O assunto é – "sucesso". No seminário onde leciono, poucos anos atrás, foi suscitado o interesse pelo assunto, na busca de pastores com "ministério bem sucedido". 
Mais anos atrás (1996), no seio da denominação evangélica em que milito, já outro debate desta natureza havia sido suscitado. 
No mundo cotidiano há, igualmente, considerável interesse sobre o foco. 
Constato que a maioria das percepções, segundo minha percepção, aponta para um perfil pessoal em que as realizações são plenas e amplamente reconhecidas; há especialidade de interesse no "sucesso" retratado por êxito financeiro e material, além de profissional, etc…
Creio que, não somente eu, mas muitos dos que se dão ao trabalho de ler minhas toscas linhas, já tiveram (ou ainda têm) algum grau de preocupação em ser alguém 
de sucesso na vida, ou ter sucesso na vida.

Já ouvi várias afirmações sobre "sucesso pessoal", e elas têm expresso igualmente uma certa variedade de conceitos.
Obviamente que a variedade de conceitos retrata pontos de vista sobre o que é isto.
O tema é tão magnético que, tempos atrás, até mesmo para promover uma nefanda marca de cigarros, o publicitário explorou uma sequência emocionante de estupendas imagens da vida, até chegar à imagem da marca, com o pronunciamento enfático do bordão – "Ao sucesso!"
Da página à qual cheguei pela indicação, selecionei algumas das citações para aqui reproduzir. 
Se são verdadeiramente procedentes dos nomes mencionados, não estou em condições de garantir. Mas, vejamo-las:
Do sábio oriental Confúcio (551a.C-479 a.C) : "Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade" .
Do renomado físico Albert Einstein (1879-1955) : "O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário";  dele, ainda : "Procure ser um homem de valor, em vez de ser um homem de sucesso" .
Do fabuloso político e estrategista Winston Churchill (1874-1955) : "O sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder entusiasmo."
Do fenômeno contemporâneo da informática Bill Gates (1955-…) :"O sucesso é um professor perverso; ele seduz as pessoas inteligentes e as faz pensar que jamais vão cair".
Até mesmo do nefasto pensador e filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900) : "O sucesso tem sido sempre um grande mentiroso".
São declarações interessantes, tenho que convir… Nem sempre favorecem os conceitos mais usuais…
Mais interesse ainda ocorreu-me de saber o que pensa o maior de todos os pensadores, e de todos os tempos, sobre este desafiador assunto. Há duas maneiras para mim viáveis, na busca desse conhecimento. 

Uma, recorrendo ao que diretamente dEle ficou registrado nos evangelhos. Outra, recorrendo ao que Ele falou por boca dos profetas bíblicos (conforme o ensino de I Pe 1.10, 11).

Então, vamos lá… 
Na primeira pesquisa, restrita aos evangelhos neo-testamentários, conforme a versão de língua portuguesa que eu adotar, é necessário recorrer a sinônimos da palavra. São correlatas, por exemplo: "feliz", ou "bem-aventurado", colocando o foco na forma adjetiva. Assim, encontro alguns exemplares:
Mt 13.16 : "Mas, quanto a vós, bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem! Ditosos os vossos ouvidos, porque ouvem! " (BCF). 
Observe o contexto da transcrição, se precisar: Jesus diz isto pondo em contraste os que recebem a dádiva de conhecer os valores do Reino eternal, em contraste com os valores do presente mundo, e a cegueira espiritual que campeia nele… É um bem-sucedido! 
Mt 24.46 : "Feliz o servo a quem seu senhor encontrar fazendo assim quando voltar. " (NVI)
Observe o contexto da transcrição, se precisar: Jesus diz isto apontando para o servo fiel, que cuida de tudo quanto chega às suas mãos como um mordomo de bens alheios… É avaliado pelo Mestre como um "bem-sucedido", na hora do encontro escatológico…
Lc 11.28 : "Mas ele disse: Antes, bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a guardam. " (ARC).
Este, nem precisa do contexto: Jesus indica que ser "bem-sucedido", como um bem-aventurado, decorre a atitude explicitamente apontada.  
Lc 12.43 (em claro contraste com o verso 19) : "Bem-aventurado aquele servo a quem o senhor, quando vier, achar fazendo assim." (ARC). 
No verso 19 deste mesmo capítulo, Jesus retrata a figura de um homem rico sem o devido temor de Deus – ocorre-se-lhe uma pergunta didática: "… e o que tens entesourado, para quem será?". Isto se mostra em contraste com o restante do ensino no capítulo, máxime o verso 43 aqui transcrito, cujo "assim " aponta para o mesmo que Mt 24.46 acima aponta. Jo 13.17 : "Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes " (ARA).
Claramente, outra menção associada à atitude submissa para com a Palavra de Deus. 

E, ainda, talvez o mais áureo dos textos sobre o assunto – Mt 5.1-12 : 
"Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus.
Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados.
Bem-aventurados os humildes [de espírito], pois eles receberão a terra por herança.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos.
Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus.
Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus.
Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa os insultarem, perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês.
Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a recompensa de vocês nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês. 
" (BCF). 
A julgar pelo ensino de Lucas 16 –  a Parábola do rico e Lázaro – a bem-aventurança prometida  tem um caráter muito mais escatológico do que existencial.
("Filho [da minha criação], lembra-te de que tivestes em vida muitos bens, e Lázaro igualmente muitos males; eis que ele agora está, aqui, consolado, e tu, em graves aflições" – tradução livre minha). 
É o que a 'poesia" das beatitudes do Sermão do Monte reitera, embora seja inegável (e necessária) uma dimensão já presente dessa realidade escatológica. 

Na segunda pesquisa, usando critério idêntico, encontro alguns outros exemplares:
Dt 29.9 : "Observareis, pois, as palavras dessa aliança e as poreis em prática, para serdes bem-sucedidos em todas as vossas empresas " (BCF).
Js 1.8 : "Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido " (ACRF).
Sl 1.1-3 : "Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido " (ARA).
Sl 49.16-20 : "Não se aborreça quando alguém se enriquece e aumenta o luxo de sua casa; pois nada levará consigo quando morrer; não descerá com ele o seu esplendor. Embora em vida ele se parabenize: 'Todos o elogiam, pois você está prosperando', ele se juntará aos seus antepassados, que nunca mais verão a luz. O homem, mesmo que muito importante, não tem entendimento; é como os animais, que perecem " (NVI). 
Pv 22.1 : "Mais vale o bom nome do que as muitas riquezas; e o ser estimado é melhor do que a prata e o ouro " (ARC).
Será que Einstein andava lendo o Antigo Testamento, para pronunciar o que pronunciou? 

Se compararmos estes parâmetros de "sucesso", "bem-aventurança" ou "êxito na vida", com o que o Salmo 73 descreve (onde menciona-se um homem sem temor de Deus, mas cheio de riquezas temporais, e honrado com as venerações de sua geração), será impossível deixar de perceber que o conceito do Redentor e Mestre Maior a respeito da matéria retrata viéses diferentes do conceito mais popular. As principais diferenças são, via de regra:

  • A dimensão do "sucesso" sob a ótica de Deus é essencialmente espiritual, enquanto que a humana é essencialmente material e circunstancial…
  • A dimensão do primeiro é acentuadamente escatológica, enquanto que a do segundo é mais existencial…
  • A dimensão do primeiro é medida pelos olhos de Deus, enquanto que a do segundo é usualmente medido pelos olhos humanos (já disse o "sábio" grego Protágoras – "O homem é a medida de todas as coisas; você concorda com isto?)…
  • A dimensão do primeiro está intimamente relacionada com a conformidade com a Palavra de Deus, enquanto que a do segundo é usualmente aferida por elementos típicos da típica vaidade humana…
  • A dimensão do primeiro sobrevive exclusivamente dependente da Graça de Deus, enquanto que a do segundo parece (apenas "parece") estar ao alcance das mãos do próprio homem.

Falando nestes contrastes, é importante ressaltar que não sou adepto da filosofia do novo Papa "franciscano"; não faço apologia à pobreza, nem à singeleza extrema. Os bens, dotes divinos, não são maus por natureza, especialmente quando usufruídos sob o princípio da "mordomia" (palavra que tomo, aqui, no sentido primário de administração de bens alheios, porquanto pertencentes a Deus, antes de mais nada). Mas, medir sucesso com parâmetros do princípio filosófico de Protágoras é um grande engano. É a graça de Deus – e somente ela – sob a égide da soberania divina, que possibilita ao homem ter ou não ter…
Ou, parafraseando Shakespeare – "ser ou não ser". 
Permita-me trazer à lembrança a sábia prece de Moisés :  
"Seja sobre nós a graça do Senhor, nosso Deus; confirma sobre nós as obras das nossas mãos, sim, confirma a obra das nossas mãos " (Sl 90.17, ARA). 
As obras de nossas mãos podem ser avaliadas pelos homens sob uma ótica, e por Deus sob outra. Para contar com a aprovação de Deus, dispor da Sua necessária confirmação para o êxito dessas obras, nada é tão imprescindível quanto a GRAÇA de Deus. Davi declarou a Deus que ela lhe bastava (Salmo 63.3). 

Falando nisto, deixo à discrição dos seus ouvidos o belíssimo hino de Daniel B. Towner… 
O coral que o canta efetua um 'crescente' envolvente na interpretação, que conta aqui apenas com a primeira e a última estrofes, além do refrão. 

GRACE, GREATER THAN OUR SIN  (1911)
Daniel Brink Towner (1850-1919)

Marvelous grace of our loving Lord
Maravilhosa graça de nosso amoroso Senhor 

Grace that exceeds our sin and our guilt!
Graça que excede nosso pecado e nossa culpa 

Yonder on Calvary's mount outpoured
Derramada lá no monte do calvário

There where the blood of the Lamb was spilt. 
Lá onde o sangue do Cordeiro foi vertido.
 
Grace, grace, God's grace, grace that will pardon and cleanse within; 
Graça, graça, graça de Deus, graça que perdoa e limpa por dentro 

Grace, grace, God's grace, grace that is greater than all our sin! 
Graça, graça, graça de Deus, graça que que é maior que todo o meu pecado!  

Sin and despair, like the sea waves cold
Threaten the soul with infinite loss; 
Grace that is greater, yes, grace untold, 
Points to the refuge, the mighty cross. 

Dark is the stain that we cannot hide 
What can avail to wash it away? 
Look! There is flowing a crimson tide, 
Brighter than snow you may be today. 

Marvelous, infinite, matchless grace
Maravilhosa, infinita, incomparável Graça 

Freely bestowed on all who believe! 
Livremente dada a todo aquele que crê

You that are longing to see his face
Vós, que estais ansiosos de ver Sua face 

Will you this moment his grace receive?
Recebereis neste momento Sua graça?

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Boa semana, até próximo Domingo, se Deus quiser (Tg 4.15) !
Ulisses

Notas das citações bíblicas:
ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
ACRF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional