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N° 34 : “COMO AGRADECER?”

Ministérios EFRATA – O Bem & o Mal, a Cada Dia
Domingo, 27 de Novembro de 2011

"Bom é render graças ao Senhor, e cantar louvores ao teu Nome, ó Altíssimo; anunciar de manhã a tua misericórdia, e durante as noites, a tua fidelidade. Quão grandes, Senhor, são tuas obras, e teus pensamentos, que profundos!"  (Salmo 92.1,2,5)

  Em 1534, por um decreto monárquico – o chamado "Ato de Supremacia", a Inglaterra abandonou a submissão papal/romanista. Mas, dizer que a nação de fato incorporou os valores cristãos que ensejaram a Reforma, vai além da verdade, pelo menos para os tempos de Henrique VII. Depois deste monarca, a sucessão ocorrida entre seus filhos (um homem e duas mulheres) alternou tempos de paz e tempos de severa perseguição aos reformistas ingleses. Seu primeiro sucessor – Eduardo VI, era muito novo e viveu muito pouco; a primeira irmã que lhe sucedeu, teve um governo tão "pacífico", "ordeiro" e "moderado", que lhe valeu uma alcunha sinistra: "Bloody Mary", Maria Sanguinária. Depois, veio a outra irmã, Isabel. Foi um longo período, relativamente pacífico. Com a morte dela, em 1603, não havia mais herdeiros a Henrique VIII, e tornou-se necessário buscar um aparentado na Escócia: Era o Tiago VI, filho da Queen Mary destronada. Em 1603 ele se tornou o Tiago I das duas coroas, unificadas em uma só pessoa, incluindo a Irlanda.

    No início do período monárquico de Tiago I havia expectativas amplas de maior liberdade para a expansão da fé reformada. Os então chamados "puritanos", que queriam um padrão de fé e de vida mais puro para os fiéis, para a igreja, anelavam um distanciamento mais autêntico das práticas, dos ritos e das posturas ainda romanistas na igreja oficial. Eles eram também chamados de "não-conformistas", por aspirarem para a igreja um molde liberto do centralizador episcopalismo anglicano, tanto quanto do congênere romano, entre outras aspirações. Entretanto, cada ano que passava no governo daquele monarca, mais distante se lhes tornava o ideal. Pior: aumentavam as medidas sancionadas por Tiago I para agradar os cripto-papistas do reino, em detrimento dos anseios dos puritanos. Não eram apenas medidas restritivas: houve mesmo perseguição.

   No ano de 1620, um grupo de 102 puritanos ("não-conformistas") deixou o porto de Plymouth, na Inglaterra, rumo à Plymouth da colônia, no outro lado do Atlântico. Desejavam eles plantar uma colônia livre para sua fé e seu culto, em que os valores cristãos percebidos na igreja do Novo Testamento pudessem ser cultivados, sem as intervenções e restrições danosas da coroa. O nome do veleiro era Mayflower ("Flor de Maio"), alusão ao seu ponto de partida na Inglaterra. Ao final de setembro, também final de Outono no hemisfério norte, aportaram na "Nova Inglaterra", jubilosos e cheios de novos ideais. A época de sua chegada poderia ter sido mais favorável do que aquela em que ocorreu: logo chegaria o inverno. E o inverno foi duro demais. Não fosse a benevolência (quem diria ?) dos indígenas da nova terra, talvez todos viessem a ser ceifados. Três "efes" marcaram sua desdita: o "f" do frio, pois foi o mais rigoroso inverno que jamais haviam conhecido, quase lhes tornando insuportável a nova jornada; o "f" da fome (e que fome, pois a neve não lhes deixou o grão e o fruto para comer), e o "f" da falência, pois lhes ceifou simplesmente metade das almas do grupo. Eles se lembraram dos peregrinos da jornada israelita desde o Egito, rumo a Canaã. Quantas vezes o Senhor lhes pesou a mão na dura jornada, e quantas vidas foram ceifadas na longa trajetória de 40 anos. Aliás, esses viajores ingleses que tencionaram plantar a nova colônia foram chamados de peregrinos, "pais peregrinos" (pilgrim fathers), de vez que se sentiram estranhos em sua própria casa, quer dizer, em sua própria terra, em busca de uma terra livre.

   Passado o inverno, veio a primavera, renovando a esperança. Com os índios, aprenderam como tratar o novo solo, e cultivar o milho, a cevada, frutas e frutos; aprenderam também a caça e a pesca. Plantaram, cultivaram, e a colheita que veio no Outono seguinte ao de sua dolorosa chegada foi tão farta, tão abençoada, que se lembraram de novo dos "pais peregrinos israelitas" no deserto, quando o próprio Deus lhes fora a provisão, com fatura de água, de maná e de carne, bem no meio do deserto. Ao final de Novembro, tão grande e farta foi a ceifa, que resolveram celebrar aos pés do Grandioso Provedor da vida. Sim, aquele que pesa, mas também que abençoa. E chamaram os índios para celebrar juntos, apresentando-lhes as boas-novas do Provedor Eterno. Os índios, além de anuir  à celebração, contribuíram: mataram e assaram perús (turkeys) para colaborar. Foi uma grande festa de Primícias, tal como os israelitas aprenderam a Deus no deserto, uma grande festa de "Ação de Graças". E o costume anual se firmou na colônia, mesmo depois de proclamada sua independência, em 1776.

   Por causa da motivação, por causa do foco em Deus, e em Sua bondosa Providência, os cristãos modernamente influenciados pela herança dos "Pilgrim Fathers" também celebram o dia mundial de "Ação de Graças", o que ocorreu na última quinta-feira. Não que "ações de graças" seja uma devoção para um dia do ano, apenas; absolutamente, não. Mas a celebração é um lembrete anual, para servir, como o sopro do foles ao fogo da forja, que acende e realimenta a dedicação da memória àqu'Ele que é o Sublime Provedor da existência, e de todas as Suas dádivas. "Toda boa dádiva, e todo dom perfeito, procede lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança" (Tiago 1.17).

    Gratidão é uma virtude própria daqueles que se consideram devedores de favor, daqueles que reconhecem que recebem de graça. Daí, a palavra que designa a atitude, ou a ação, estar diretamente relacionada à atitude de quem efetua a dádiva de favor. Mas a mais sublime forma de gratidão é a daqueles que recebem o favor, a dádiva, e ficam a perguntar-se – "por que"? "Por que eu?" Eu explico o que quero dizer: É comum alguém passar por uma privação, uma dor, uma desventura, e perguntar (não apenas a si próprio) – por que? Por que eu? Mas o inverso é a testificação da sublimidade de alma: Recebo toda boa dádiva e todo dom perfeito, que procede lá do alto, do Pai das luzes, e pergunto a mim mesmo (ou até a outrem): Por que? Por que eu? Sei que nada fiz por merecer… "Pois, quem é que te faz sobressair? E que tens tu, que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?" (I Coríntios 4.7). E recebo essas boas dádivas e todo dom perfeito, a cada dia; não escapa um só dia! É só ter olhos para ver ("Aconselho-te que de mim compres… colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas" – Apocalipse 3.18).

   O Espírito Santo deixou, por via do apóstolo Paulo, uma epístola rica em exortações sobre as ações de gratidão – pelo menos uma em cada capítulo: – "Não cessamos de orar por vós… a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o Seu inteiro agrado… dando graças ao Pai… " (Colossenses 1.9-12) – "… nele radicados (enraizados), e edificados, e confirmados na fé…, crescendo (transbordando) em ações de graças" (Colossenses 2.7). – "… e sede agradecidos" (Colossenses 3.15)  "Perseverai na oração, vigiando, com ações de graças" (Colossenses 4.2)O mesmo livro bíblico que poeticamente declara o que está no caput desta mensagem, nos declara ainda: "Rendei graças ao Senhor, porque Ele é bom!" (Salmo 106) Apesar de tudo o que passamos, Deus é bom! Ele não nos garante uma passagem tranquila, mas uma chegada segura, e vitoriosa, e será um gozo e descanso sem fim e sem medida. Então, Ele é bom. Ele é bom por diversos motivos; mesmo tentando, não poderíamos enumerá-los todos:

1) Ele detém, sobre nós, o duplo direito – o de criação (Ele nos fêz) e o de redenção (Ele nos remiu, nos comprou de volta, com o sangue do Seu Filho).

2) Nas Suas mãos, está a nossa vida e força; a nossa provisão; a Providência é uma de Suas obras magníficas.

3) Ele nos reserva, a cada dia, a Sua graça (Salmo 63.3), apesar de nós, de quem somos e o que fazemos, e até o que deixamos de fazer…

   Fica-lhe bem, por conseguinte, toda ação de graças, toda a gratidão, e até mais do que possamos tributar. Deus se agrada de nós, se exibimos um coração grato,  com boa medida de gratidão. Vai-te bem a vida? Dê graças a Deus! Se não como queria, dê graças porque Ele te sustém, e não sobrevem o pior… Vai-te bem o trabalho, e assim os ganhos? Dê graças a Deus! Se não tanto como queria, dê graças porque há muitos com muito menos… Os "Pais Peregrinos" deixaram um legado regozijante aos seus filhos, os filhos da geração que nasceu em solo americano. Nesse legado, a alegria de celebrar a bênção que, a cada dia, dia após dia, ano após ano, Ele lhes derramava do céu. A cada final de Novembro, eles apresentavam suas primícias em louvor de Deus, o Criador, o Provedor, o Dadivoso. E nós nos juntamos às gerações que já passaram, transmitindo às que nos seguem: Bom é render graças ao Senhor…  

   Mais de quatro décadas atrás, um afro-descendente norte americano compôs um hino que ultrapassou muitas fronteiras. Seu nome é Andrae Crouch. O hino expressa parte do que esta mensagem quer acentuar. Segue a canção aqui, numa das versões em língua portuguesa, pela voz de um antigo amigo pessoal meu – Ozéias Silva, que há muito não vejo. Para os que se interessarem segue o link do youtube da versão original na voz de Adrae Crouch.
https://www.youtube.com/watch?v=WF0TcbY_Z8o

My Tribute, 1970
MEU TRIBUTO 
Andrae Crouch (1947… )

Como agradecer pelo bem que tens feito a mim
Que vem demonstrar quanto amor Tu tens ó Deus por mim
As vozes de milhões de anjos não poderiam expressar
A gratidão do meu pequeno ser que só pertence a Ti!

A Deus demos glória, a Deus demos glória
A Deus demos glória, que por nós tanto fêz 
Foi na cruz que salvou-me; seu poder resgatou-me…
A Deus demos glória que por nós tanto fêz!

Quero viver aqui para adorar-te, meu Senhor
E se surgir um louvor: ao Calvário seja assim! 
Foi na cruz que salvou-me; seu poder restaurou-me:
A Deus demos glória que por nós tanto fêz!

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Bom Domingo, boa semana,
 Ulisses

Notas das citações bíblicas:
ACF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil

ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional