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Nº 119 : “QUEM ?”

Ministérios EFRATA – O Bem & o Mal, a Cada Dia
Domingo, 25 de Agosto de 2013

Foi Platão quem mais famoso ficou por afirmar, filosoficamente, que a realidade essencial é invisível aos olhos e transcende a matéria. Estou seguro em afirmar que ele estava certo, embora já não seguro em concordar com suas premissas e seus fundamentos. Platão foi um mestre no diálogo. Tãoimportante, para ele, era esta peça do entendimento, que ele ainda a usou para transmitir conhecimento. Mais precisamente, o conhecimento que adquiriu de seu mestre, Sócrates, em escritos que tomaram a forma didática de diálogos. 

Se eu perguntasse a ti, que lê ao menos as linhas iniciais deste escrito, qual o diálogo mais notável, mais cheio de significado, mais contundente, mais memorável, que a qualquer tempo chegou ao seu conhecimento, confesso que estaria tentando te testar… Quero dizer, testar se você concordaria comigo, ao fazer eu a minha escolha. Num final de semana em que, mais uma vez fui desafiado a falar a um grupo de jovens sobre um tema que me empolga – o tema da Criação divina – o diálogo que à mente me vem agora me veio também em minha preparação. Eu me refiro ao diálogo registrado nas páginas do livro de Jó. Trata-se, reconheço, de um estudo reincidente na minha cabeça. 'Inda mais agora, nesta semana, em que certo colega me brindou com um link pela internet, exibindo o estupendo ensaio de abordagem que Ray Comfort  desenvolveu, sobre o mesmo tema, com estudantes e professores universitários nos Estados Unidos – sucessão de pertinentes diálogos.

O diálogo a que me refiro está nas páginas bíblicas, no livro de Jó, nos capítulos 38 a 41…  Bem, devo reconhecer que ali não há um diálogo com todas as características peculiares. Afinal, desde o início da "Via Crucis" de Jó, ele e seus três primeiros amigos falam muito; o amigo mais novo – Eliú – fica calado até não terem mais o que falar, e Deus a tudo presencia. No capítulo 32, depois de constatar que Jó e os três primeiros amigos esgotaram seu repertório de argumentos, Eliú começa a falar… Por sinal, sendo o mais novo de todos, incorre numa contingência de exceção quando desafia as cãs, quanto ao repositório de sabedoria (Jó 32.6-10). Porque, o normal e mais usual é que com as cãs esteja a sabedoria; mesmo a Escritura o ensina. Mas, até para esta regra há exceção, quando os anos, longe de significar experiência sábia, costumam acumular outro tipo de acervo. Mas, Eliú, respeitando como se deve respeitar as cãs, esperou que todos falassem tudo quanto tinham para falar, e só depois ergueu sua voz.

E Eliú fala com voz profética! Fala com autoridade! Faz justiça a Deus, faz justiça a Jó (tanto quanto possa este reivindicar justiça em si) e faz justiça aos fatos. Tanto é que nenhuma reprimenda sobrou para ele, quando Deus tomou a palavra (ao contrário dos três primeiros amigos, e do próprio Jó).

Quando Deus começa a falar, esse "diálogo" não poderia ter mostrado outra cena; nenhuma outra seria cabível: todos se calam!
O que diz Deus? Ah! Confesso que só uma leitura de "peito aberto" por toda a porção do livro – os capítulos 38 a 41 – mostrariam um enredo claro e apropriado. Ainda assim, é possível fazer alguns destaques…

Por exemplo, os desafios :
"Quem é este que escurece [tolda] os meus desígnios com palavras sem conhecimento? " (Jó 38.2, ARA)
"Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? Dize-mo, se tens entendimento" (Jó 38.4, ARA) 
E aí, imediatamente, percebe-se uma sucessão de questionamentos de fazer corar qualquer humano, mortal que é, mesmo que esteja entre exemplares tais quais Albert Einstein, Isaac Newton, Blaise Pascal, ou qualquer outro  "luminar" que seja.

Se você for lá, ao Livro Sagrado, conferir essa sucessão, não se esqueça de tentar construir a cena em sua imaginação: cinco homens sentados sobre a terra da entrada da cidade, três deles falando com o mais elevado "ar professoral", e um deles com o corpo moído em dores (físicas e espirituais) e repugnado em chagas, da cabeça aos pés.

É como se Deus, aparentemente ignorando o horror da moléstia e a opressão das acusações, ainda dissesse:
– O Que você entende da criação distante, que apenas seus olhos podem ver?
– O que você entende da criação próxima, que também suas mãos e pés podem tanger?
– O que você entende dos mistérios da vida e dos meus propósitos, mesmo que esteja sofrendo, e sendo injustamente acusado?
– O que você entende dos meus propósitos para com a sua própria vida?
– Como você se arvora, e se atreve a questionar os meus desígnios, ainda que te pareçam incompreensíveis?

Num dado momento, parece que Jó percebeu sua indignidade e o seu atrevimento. Parece que até tentou estancar a catilinária divina (vide o início do capítulo 40). Mas, como se a mostrar que ainda não tinha acabado, continua Deus, mesmo admitindo que Jó viesse a participar do diálogo:
"Cinge agora os teus rins como homem; vou interrogar-te, e tu me responderás " (Jó 40.7, BCF).
E seguem-se mais algumas perguntas e considerações de emudecer (onde foi parar o diálogo?)…
"Acaso anularás, tu, o meu juízo? Ou me condenarás, para te justificares? " (Jó 40.8, ARA).  
"… quem, pois, é aquele que ousa erguer-se diante de mim? Quem primeiro me deu, para que eu haja de retribuir-lhe? Pois o que está debaixo de todos os céus é meu." ( Jó 41.10-11, ACRF).  

É meu, Jó! É meu, homem, mulher, do século XXI. Tudo, no céu, na terra, nos mares e debaixo da terra. Tudo é meu!
Toda vida é minha, e a morte também é minha – minha serva! 
Sa, jogar pérolas aos porcos é responder inutilmente a insensatez ímpia (Mt 7.6), é viável deduzir que Deus se deu ao trabalho de falar tão profundamente, tão confrontadoramente com Jó, porque o amava, e porque tinha especial consideração para com ele. Bem, pelo que narra o capítulo 42, sabemos disto com certeza. Mas, mesmo que não nos fosse dado saber o que narra o último capítulo do livro, somente sob essa hipótese se justificaria ter Deus gasto tempo inquirindo a Jó.
Deus o amava, a despeito de todo o sofrimento pelo qual passou. Não vale a pena inverter os papéis: o"banco dos réus" não foi feito para Deus; Ele não cabe naquele "banco", que tem a exata medida para cada um de nós.
Mas, como Deus também nos amou, ainda que nos deixe sob certo sofrimento e angústia, Ele nos tirou do banco dos réus, e colocou nele o Seu próprio Filho, em substituição a nós.
Portanto, por que contender com Deus, seja em palavras públicas, seja em pensamentos privados?
Deus começou a mudar a sorte de Jó enquanto ele orava a Deus. 
"… e o Senhor aceitou a oração de Jó " (Jó 42.9, ARA).  
"Quando a tempestade ruge, com o seu feroz bramir,
Quando as nuvens se acumulam, raios mil a refulgir
Do trovão, um som tremendo faz-se ouvir e com pavor…
Mas, por sobre a tempestade  soa a tua voz, Senhor! "

Não se aflija! Deus sabe o que faz!!! Lá, por sobre tudo e todos, Ele continua soberano e amoroso!
Ele é Deus !!!

Hoje vai uma composição contemporânea; belíssima, por sinal.
Seu título empresta título à nossa mensagem de hoje, também…

QUEM
Guilherme Kerr Neto (1953…)

Quem, com a palma da própria mão, mediu o imenso e infinito mar?
Quem, na balança e com precisão, a terra inteira escolheu pesar? 
Eterno Deus, Deus de poder – quem pode a tua intenção conhecer? 
Terno Senhor, Deus – Todo Amor, quem pode o teu coração decifrar?
Teus caminhos sondar e conselhos te dar? …
Deus, soberano Rei; Deus poderoso…

Quem, bem da palma da própria mão, tirou o vento e espalhou o mar? 
Quem, cada estrela na escuridão do véu da noite, mandou brilhar?
Deus Criador, Deus – toda luz, vem, nossas trevas, Senhor, dissipar…
Deus Redentor, Cristo Jesus, faz nossos passos teus passos trilhar…
Tua voz preferir, teus conselhos seguir!
Ó Deus triúno, Pai, Filho, Espírito
Amém! 

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Boa semana, até próximo Domingo, se Deus quiser (Tg 4.15) !
Ulisses

Notas das citações bíblicas:
ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
ACRF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional