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N° 186 : “VAI TUDO BEM?”

Ministérios EFRATA – O Bem & o Mal, a Cada Dia
Domingo, 11 de Janeiro de 2015

Numa entrevista, perguntaram ao famoso artista brasileiro:

– Já vão ficando famosas as histórias de palhaços que fazem todo mundo rir, e que, lá por trás, na vida real, carregam grandes tristezas; é verdade?
– No meu caso, não poderia ser mais verdadeiro. Tínhamos acabado e montar o circo numa cidade paulista. Minha mãe, meu irmão e eu ficamos ajudando nos trabalhos para o primeiro espetáculo; meu pai deu uma saída e sofreu um acidente fatal instantaneamente. Perguntei à minha mãe – E agora? E decidimos que tínhamos que cumprir a agenda. Eu e meu irmão éramos palhaços, naquele dia. E assim foi: enquanto, por trás da máscara de palhaço, fazíamos o público rir, quando voltávamos atrás do picadeiro estávamos lá, velando nosso pai.  

Que coisa! Um dos mais famosos palhaços brasileiros foi o Arrelia (Waldemar Seyssel, 1905-2005). Foi ele quem tornou célebre, repetindo junto ao público, em cada espetáculo, a marchinha:– Como vai, como vai, como vai? Como vai, como vai, vai, vai? – Muito bem, muito bem, muito bem! Muito bem, bererém, bem bem!  Dizem que Waldemar chegou a confidenciar a alguns quantas vezes tinha o coração dilacerado, enquanto o Arrelia, na sua pele, fazia rir.  

A nossa vida não é tão diferente. Ela pode retratar diferentes reações, diante de uma simples pergunta, como – Como vai? E, mesmo sendo uma pergunta simples, exige discernimento para ser feita: Coisa desconcertante é chegar num hospital, para uma visita, e perguntar – Como vai?…  

Nos encontros cotidianos, uma reação não muito rara é a de quem só espera uma pergunta desse tipo, para começar a derramar suas lamúrias. Nem vale a pena perguntar. Começa, se estende, como se ninguém mais sofresse. Se fazemos menção de seguir adiante, apontando que o tempo avança, ainda diz…– Espere! Não terminei ainda… A própria vida lhes é a melhor chance de murmurar…   Há uma outra reação curiosa –  a daqueles que perguntam, mas querem mesmo é uma chance de falar de si.  Quando se lhes faz a pergunta – Como vai – seja qual for a resposta, não estão muito interessados nela, porque não são bons de ouvidos; são bons de boca. Estão interessados na primeira chance que lhes for dada para interromper e começar a falar de si. 

Há, porém, uma reação incomum. Fazemos a protocolar pergunta:
– Como vai? E a resposta pode ser, ou não, também protocolar:– Tudo bem! Ou… Tudo em paz!

Se for apenas protocolar, é porque quem responde não quer conversa. Mas, se não for (e é preciso certa astúcia investigativa para discernir), trata-se, por certo, de uma virtude altaneira, virtuosa. Diante da resposta, melhor seria acrescer – Tudo em paz, como? Se houvesse tempo para parar, e dizer como realmente vão as coisas, a pessoa que pergunta ainda diria:- E você ainda diz – tudo bem – ou – tudo em paz? 

Assim foi com a mulher sunamita, que hospedou o profeta Eliseu. A história se encontra no ‘livro’ bíblico de II Reis, capítulo 4. Ela não tinha filhos; seu esposo já não era capaz de proporcionar-lhe uma gestação. O profeta quis retribuir-lhe pela fidalguia da hospedagem; sob a condução divina, prognosticou-lhe um filho para dali um ano. Mas, nascido o menino (alegria da sua mãe e do seu pai), eis que ele um dia veio a falecer subitamente. E a mulher foi em busca do “homem de Deus”, que era o profeta Eliseu, que estava no Monte Carmelo. Aparentemente, Eliseu pressentiu que algo estava mal, mas não sabia o que era (o Senhor lho encobriu). A mando de Eliseu, seu discípulo e auxiliar Geazi foi acionado, para encontrá-la, ainda no caminho: “Vai bem contigo? Vai bem com teu marido? Vai bem com o teu filho?  Ela respondeu: tudo bem!”  (II Reis 4. 26, ARA). Sua resposta foi equivalente a – Está tudo em paz! Muito parecida com o título do hino que lastreia a mensagem Nº 140 – “Paz?… Que Paz?”, hino de autoria de Horatius Gates Spafford (1828-1888); ver em https://www.efrata.net.br/no-140-paz-que-paz/

O filho daquela mulher de fé e piedade estava morto sobre uma cama, em casa, desde poucas horas antes, e ela dizendo: Está tudo em paz! Lá por dentro, o coração de mãe bem sabia o tamanho da dor. Pois bem! Uma coisa posso dizer: é possível que, da próxima vez que eu perguntar a alguém – Vai tudo bem? A resposta não me mostre toda a verdade. Duas até, posso dizer: Talvez seja possível penetrar um pouco mais naquele mundo fechado, se eu quiser ser verdadeiramente solidário, e não meramente protocolar. Na verdade, são três coisas que posso dizer: ainda que aquele mundo me fique oculto, tal qual o mundo fechado do protagonista que se traja de palhaço, escondido atrás de sua máscara de fazer rir, não está fechado para aquEle que sonda e conhece cada coração; aquEle, em quem podemos nos refugiar a qualquer tempo; aquEle que não se limita a tratar conosco  de modo protocolar.

Se tratarmos com Ele, igualmente de modo não protocolar, experimentaremos quão valioso é o Seu braço, a Sua força, o Seu consolo! Mesmo que a nossa face, externamente, mostre o comum do dia-a-dia, escondendo o esmorecimento de espírito, ainda assim, é Ele o único refúgio! Assim o salmista se expressou: “Ao SENHOR ergo a minha voz e clamo, com a minha voz suplico ao SENHOR. Derramo perante ele a minha queixa, à Sua presença exponho a minha tribulação. Quando dentro de mim me esmorece o espírito, conheces a minha vereda. No caminho em que ando, me ocultam armadilha. Olha à minha direita e vê, pois não há quem me reconheça, nenhum lugar de refúgio, ninguém que por mim se interesse. A Ti clamo, SENHOR, e digo: Tu és o meu refúgio, o meu quinhão na terra dos viventes. Atende o meu clamor, pois me vejo muito fraco. Livra-me dos meus perseguidores, porque são mais fortes do que eu. Tira a minha alma do cárcere, para que eu dê graças ao Teu nome; os justos me rodearão, quando me fizeres esse bem” (Salmo 142, ARA).

A propósito, um depoimento adicional: “Era 01.30h, madrugada, Setembro de 1980. Era a minha vez: Mary (minha esposa) e eu nos revezávamos para cuidar do Billy (2 anos) e do Davi (apenas um mês de vida). Levantei-me, cuidei deles, e tentei voltar a dormir, mas os problemas dos dias correntes vieram-me à mente;  fugiu-me o sono.  Abri a Bíblia e parei no Salmo 142. Que conforto! Logo, me veio uma melodia… Levantei-me, plena madrugada, fui ao piano, e comecei a escrever a partitura. Além disto, harmonizei as quatro vozes, metrifiquei as estrofes. Olhei pro relógio: 7 da manhã… Com a minha voz, clamo ao Senhor… A Deus, toda a glória! ”

Ouça, aqui, o hino, sob a interpretação do Coral Vozes do Calvário (Campinas, SP), em companhia da Orquestra Filarmônica Messiah.  

Segue a letra, para o caso de ser útil… Mais abaixo, nosso Audio  Player… 

SALMO 142
(COM A MINHA VOZ CLAMO AO SENHOR, 1980)
Verner Geier  

Com a minha voz clamo ao Senhor,
Com a minha voz ao Senhor suplico
Diante d'Ele a queixar-me eu estou,
Diante d'Ele exponho a minha aflição
Quando aqui dentro de mim esmorece o meu espírito,
Tu então conheces minha vereda
Olho à mão direita e vejo: Não há quem me conheça,
Não há ninguém onde me refugiar!…

Com a minha voz clamo ao Senhor,
Com a minha voz ao Senhor suplico
Diante d'Ele a queixar-me eu estou,
Diante d'Ele exponho a minha aflição
Ó Senhor a Ti clamei, pois Tu És o meu refúgio
E o meu tesouro entre os viventes
Vem, atende ao meu clamor, estou muito abatido
Livrar-me vem do forte tentador!…

Com a minha voz clamo ao Senhor,
Com a minha voz ao Senhor suplico
Diante d'Ele a queixar-me eu estou,
Diante d'Ele exponho a minha aflição
Tira-me desta prisão e assim louvarei Teu nome
E então os justos me cercarão
Meu Senhor, eu clamo a Ti: Oh, vem livrar minh'alma
E cantarei que me fizeste bem!

AudioPlayer online (controle de volume à direita)

Boa semana, até próximo Domingo, se Deus quiser (Tg 4.15) !
Ulisses 

Notas das citações bíblicas:
ACF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional