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N° 60 : “SABOR DE VIDA”

Ministérios EFRATA – O Bem & o Mal, a Cada Dia
Domingo, 10 de Junho de 2012

    Há histórias que criam uma curiosa empatia de emoções… O sujeito saiu de sua cidade, e foi parar numa cidade do interior paulista – Avaré. Era Sábado, 02 de Junho último, quando encheu seu caminhão de frutas, para voltar até sua cidade, chamada "Harmonia", no Rio Grande do Sul (mas, que nome mais sugestivo para minha mensagem de hoje, viu?… Sugestivo à beça!). 
No caminho de volta, já entrava no estado do Paraná, mas também já passava de meia-noite de Sábado para Domingo. O tempo não ajudava: hora avançada, muita chuva, muita neblina, cansaço (naturalmente)… Por volta de uma da madrugada, Renato Varela de Oliveira perdeu o controle do caminhão e saiu da estrada. Ninguém viu! Nem na sua própria mão, nem na mão contrária. Estava nas proximidades de Jaguariaíva. Foram 15 metros ladeira abaixo por entre a mata que, quando acabaram, deixaram tudo ao avesso: cabine espatifada e semi-enterrada, o motorista meio que por baixo dela, a carroceria capotada a ponto de resvalar, descendo mais, na direção onde estava o que restou da cabine, com o motorista por baixo, e um desfiladeiro mais profundo dois metros à frente. Na posição que ficou, Renato ficou com todo o corpo imobilizado pelas ferragens, pela terra e pelo mato, exceto a cabeça e um braço. Ah! Mais um detalhe: a carga de laranjas esparramou-se, deixando uma parte em volta do corpo do acidentado. Amanheceu o Domingo, dia 03; quando ainda tinha forças, gritava por socorro, mas ninguém ouvia, 15 metros acima. Pensando que acabariam por achá-lo, usou o único braço móvel para alimentar-se… de laranjas.Um dia inteirinho, e ninguém parou à beira daquele precipício, para dar-lhe alento de ser encontrado. Para beber água, só abrindo a boca para cima, quando vinha chuva. Veio a noite, trazendo consigo a esperança de ser encontrado no dia seguinte, segunda-feira. 
Mais gritos (já com menos força), mais laranjas para alimento… … e só! Foi-se o segundo dia! O terceiro não foi diferente, a não ser pelo aumento das dores pelo corpo imobilizado, e a chuva que caiu forte de novo, trazendo morro abaixo uma enxurrada que rodeou seu pescoço, até próximo à boca, nariz e ouvidos… E, também, pela redução da esperança. Mas, haveria um quarto dia… Só que esse quarto dia, sem nada mais acontecer a seu favor, trouxe a sombria sensação de que estava destinado terminar seus dias ali, quando acabassem as laranjas ao alcance do seu único membro corporal livre.

    Enquanto isso, lá em "Harmonia", passada a segunda-feira (dia 04) em que era esperado de volta, o pai dele estava incomodado com a falta de notícias do filho; procurou o dono da transportadora, e ambos foram à polícia.Passando-se também a terça e a quarta sem notícias por parte da polícia (pois nenhum acidente havia sido registrado com as características descritas do veículo), resolveram percorrer, eles próprios, o caminho que ele teria feito. Coisa de pai, com sua persistência, porque queria encontrar o filho a qualquer preço… Ao saber da sua passagem pelo posto fiscal do Paraná, bem antes de Ponta Grossa, Carambeí e Castro, voltaram andando lentamente, até que identificaram marcas de pneus e um pedaço da carenagem do caminhão. Ao descerem a encosta pelo mato, lá estava o caminhão (quer dizer, o que restou dele), e lá estava o filho desaparecido. E ainda estava vivo (embora com uma parte do corpo quebrado), exatamente CINCO dias após o acidente! Com a ajuda dos policiais e bombeiros, depois de 3,5 horas Renato foi liberto. No leito do hospital, recuperando-se, deram-lhe um copo de suco de laranja e perguntaram-lhe – "Que gosto que tem?"E ele respondeu – "TEM SABOR DE VIDA!"

   Sinceramente, não consigo evitar uma analogia gloriosa que me parece plenamente factível. Pergunto eu – não foi assim também que o Pai Sobrexcelente fêz ?Não somos (ou não fomos) nós tais quais o Renato Varela de Oliveira, andando e vagueando longe do lar de "Harmonia" (estou aqui imitando um pouco John Bunyan)? Não temos estado, nesta vida, expostos aos riscos das curvas sob chuvas espessas e densas neblinas? Não nos vemos também, antes de uma ou outra curva fatídica, senhores do 'volante' da nossa vida e do controle do trajeto, quando chega a tal 'curva' e nos prova o contrário? Metaforicamente falando, nunca nos sentimos como ele se sentiu naqueles cinco dias – o que vou comer? Como vou me mexer? Quem vai me valer?"De onde me virá o socorro" ??? – pensamos como o salmista! Ele ficou num estado em que se viu imóvel, e totalmente dependente de socorro externo. Pois assim já não estivemos, quantas vezes? Ou não estamos ainda, de vez em quando?

   Pois então, avançando nas minhas analogias, eis que me deparo com mais uma verdade: Foi o Pai, foi Ele mesmo, quem veio em meu socorro; foi ele quem descobriu em que curva derrapei, onde a morte quase me levou, e onde a densidade do "breu" toldou meus olhos… Quando pecamos contra Ele (e não foram poucas as vezes), Ele veio de novo ao nosso encontro (embora exigisse, como sempre exige, um arrependimento sincero e uma nova disposição perante Ele), e nos encontrou sob as ferragens, sob as laranjas, podres, dilaceradas, embarreadas, as migalhas e as alfarrobas com as quais, fragilizados, pensávamos poder nos fartar… Estendeu a mão, nos tirou, nos ergueu… Isto, que afirmo, é verdade ampla e irrestrita da graça divina. Com palavras próprias do fruto da revelação e da inspiração, assim retrata-se o quadro"Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo… Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo". (Paulo, em II Coríntios 5.18,19) "O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância". (Jesus, em João 10.10) Tudo isto faz-me lembrar a chamada "parábola do filho pródigo" (Lucas 15.11.32). Há pelo menos duas maneiras de se entender, semanticamente, o adjetivo que atribuíram ao filho mais novo da parábola; pela maneira como o atribuíram, quiseram dar a ele caráter de gastador, perdulário, inconsequente, desperdiçador de bens. Mas eu penso que o mesmo adjetivo poderia ser usado, com outro significado, para com o personagem simbólico que realmente merece o maior destaque na parábola – o pai. Ele, sim – o pai – é o "pródigo"! Pródigo em doar, pródigo em perdoar, pródigo em buscar de volta, pródigo em celebrar o encontro do que estava perdido! Pródigo também em sair de novo, em busca do outro filho, o "turrão"…Aliás, nessa parábola, quem mais sai ao encontro (quando apenas deveria permanecer onde estava) é o pai, já notou?Sai ao encontro do filho mais novo, "esfrangalhado", e depois sai ao encontro do filho mais velho, "emburrado"… Retrato simbólico do Pai das Luzes. Pois foi Ele, na pessoa do Seu Filho, quem veio ao nosso encontro, e nos achou, "sob as ferragens" e sem forças para inflar o pulmão e pedir por socorro, embora dele dependendo tremendamente; como o Renato! Bela palavra – tinha que ser a do "pai" – que termina o texto da parábola: "Entretanto, era preciso que nos regozijássemos, porque esse teu irmão estava morto, e reviveu; estava perdido, e foi achado" .(João 15.32). Já viu algo mais bonito que isso ?Entendeu o 'porque' da minha empatia emocional com a história do resgate do Renato, em Jaguariaíva, para ser levado de volta pelo pai para "Harmonia"?Já viu algo mais deslumbrante, do que essa maneira peculiar e esplêndida de Jesus demonstrar, com uma simples (porém rica) parábola, como Deus, o Pai, acalenta Seu sentimento de zelo e de busca por aqueles que Lhe pertencem, aos quais Ele dá a conhecer o Seu amor? Ele é quem nos traz de volta à "harmonia" da Sua presença e comunhão! Só Ele!! 

    A parábola dá um retrato da iniciativa divina, em Cristo, Seu Filho, em favor de nós (sem merecermos) – por isto a grande significação das palavras de Jesus acima citadas :"Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância". (Jesus, em João 10.10). Isto significou (e ainda significa, a cada dia) vida para quem estava em trevas. Por isto, imagino eu que, a partir de hoje, toda vez que eu tomar um copo de laranjada, vou me lembrar do Renato, mas (quem sabe, por simples mecanismo mnemônico da mente) vou me lembrar também de que Deus estava em Cristo, trazendo-me vida no tempo e no espaço onde jaz a morte … "Sabor de Vida!", como disse o Renato! "Esperei confiantemente pelo Senhor, e Ele se inclinou para mim e me ouviu, quando clamei por socorro. Tirou-me dum poço de perdição e de trtemedal de lama; colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos. E me pôs nos lábios uma nova canção, um hino de louvor ao nosso Deus; muitos verão essas coisas, temerão, e confiarão no Senhor." (Salmo 40:1-3)

   Eu tenho um hino também para hoje. Foi escrito por uma serva de Deus no início do século XX, a qual escreveu mais de 1000 hinos e composições cristãs. Quando este hino de hoje foi por ela composto (letra e música), ela se encontrava por volta de 50 anos de idade, mas começando a perder a visão (e logo ficou cega).Mas a cegueira não lhe impediu de continuar seu ministério… Há praticamente uma versão portuguesa desse hino em cada um dos hinários brasileiros. Escolhi a versão que segue  pelo fato de ser um pouco mais rica em beleza.

SWEETER AS THE YEARS GO BY (1912)
JESUS ACHOU-ME…
Lelia Naylor Morris (1862-1929)

1. Jesus um dia achou-me
    Mui longe do me lar,
    Perdido já no mundo,
    Sem mais poder voltar.
    Nos braços Seus tomou-me,
    Por Seu amor salvou-me,
    E com dulçor levou-me
    De volta para o lar.

CORO:
    A presença de Jesus
    Dá-me paz, prazer e luz.
    Cada dia cresce, mais se enriquece
    Esta vida com Jesus.

2.  Andamos pelos montes
    Pra minha fé provar:
    Tão densas são as trevas – 
    Não posso caminhar!
    Não há nenhum perigo,
    Pois Cristo está comigo,
    E este grande Amigo
    Conduz-me para o lar.

3.  Passamos pelos vales,
    Quão bom é relembrar!
    Despertam as saudades
    Do meu paterno lar.
    Oh, quão maravilhoso
    Sentir tão alto gozo:
    O Amigo tão precioso
    Levar-me vai ao lar.

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 Bom final de semana, boa semana a seguir!
Ulisses

Notas das citações bíblicas:
ACF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana

ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional