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Nº 002 – “NO CENTRO DA VONTADE DE DEUS…”

Ministérios EFRATA – Arautos de Vida
Janeiro de 2014

Na dedicatória, logo na primeira capa, lê-se assim: “Ulisses, uma recordação de uma época, na qual minha vida passou por grandes mudanças, esperando que sirva de conforto e estímulo – Recife, Outubro de 1984”. Assim Íngrid deixou comigo o seu segundo presente, às vésperas de meu primeiro filho completar seu primeiro ano de idade. Se isto foi significativo – quero dizer, a história de Íngrid, o presente, a dedicatória? Não tenha dúvida que foi. Logo que meu filho, que é (ou nasceu, nem sei bem) autista, foi levado, nos braços de minha esposa, para nossa morada nas dependências do seminário em Recife, naquela tarde de Domingo, 13 de Novembro de 1983, Íngrid foi a primeira pessoa da “família” do seminário a conhecê-lo. Ela estava lá, sentada, no caminho de entrada do campus, à porta de sua casa, com um presentinho na mão para o nosso primogênito-caçula.

Íngrid Lopes Neumann nasceu no lar do Rev. Heinz Neumann, germânico professor de hebraico no nosso seminário, ao tempo em que por lá chegamos, e de sua esposa, dona Virgínia. Era a segunda filha, depois de Vera, e antes de Sigrid, Armínio e Henrique. Como gostava de jogar voleibol. Logo que concluiu (1974) os dois cursos de faculdade que cumpriu em paralelo – Direito e Ciências Econômicas – seus sonhos eram múltiplos, como os de qualquer jovem. No entanto, segundo ela mesma relata, a partir de 1972 já não vinha cultivando a mesma comunhão com Deus, como outrora. Na faculdade, chegaram a ‘balançá-la’, dizendo: “Íngrid, você tem que colocar na cabeça que não foi Deus quem criou o homem; o homem foi quem criou Deus!”.

No início de 1975, estava para voltar de São Paulo para Recife, e a viagem seria de carro. No volante do Opala ‘quatro portas’, seu tio Abel; à direita dele, seu tio Rubem; entre os dois, o Rev. Dionísio Pape, missionário canadense que tinha vindo ao Brasil para trabalhos da ABU – Aliança Bíblica Universitária. No bando de trás, a amiga Betinha, obreira da ABU e a própria Íngrid. Uma passagem pelo camp da ABECAR, em Mogi das Cruzes, proporcionou um apelo aos seus olhos – o Congresso Missionário em Curitiba, no ano seguinte. Íngrid disse, de si para si: Nesse aí, eu não vou. E a viagem seguia. Antes de saírem, um pneu furado; depois, na Dutra, outro pneu furado. A certa altura, Betinha convidou Íngrid para deitar-se em seu colo, no que foi atendida. No entanto, depois de algum tempo, Íngrid resolveu erguer-se, recostando-se à janela direita do banco de trás do Opala. E foram pouco minutos que seguiram, quando mais um pneu murcho deve ter provocado a perda do controle do Opala, levando-o para a pista contrária. A colisão com um caminhão, que vinha em sentido contrário, foi inevitável. O choque destruiu todo o lado esquerdo do Opala, e ceifou a vida do seu tio Abel e da amiga Betinha. Íngrid foi levada para o hospital em Cruzeiro, SP. No trajeto, ia a seu lado o corpo de seu tio Abel, e ela a pensar:  “Betinha morreu, tio Abel está morto aqui do meu lado e agora é a minha vez!”.  Lá, a assistência médica, incluindo cirurgia na mesma noite do acidente, comprovou a conseqüência: seccionamento da medula vertebral, resultando em paraplegia flácica, por lesão entre as vértebras 11 e 12.

A experiência desse acidente direcionou a vida de Íngrid para outro rumo: como ela mesma disse, para o “centro da vontade de Deus”. Sua oração, naquele mesmo dia, foi a de reconsiderar sua vida por inteiro, colocar-se diante de Deus, dizendo a Ele que, se Ele quisesse preservar sua vida, ela a colocaria a serviço do Senhor. Disse ela: “Senhor, dá-me esta oportunidade, não como a comprar o direito de viver, mas, para que, quando eu tiver de me encontrar com o Senhor, não sinta vergonha de ter vivido egoisticamente”. Muitas orações foram elevadas ao céu, pedindo a cura de Íngrid: seus pais, sua família, pastores, vários irmãos na fé, e também ela mesma. No entanto, o “centro da vontade de Deus” era usar Íngrid, mesmo paraplégica, para “confortar e estimular” muitas outras pessoas; e, também, para alcançar seus corações, através do seu testemunho, com a palavra que emana do coração de Deus – a Palavra de Deus! E é assim que se têm sucedido seus anos de vida. Falei com Íngrid, por telefone, ainda esta semana, e perguntei-lhe: Íngrid, depois de trinta anos, desde que conheci sua história, e te conheci pessoalmente, depois de quase quarenta anos daquele acidente, eu te pergunto: você reafirma as palavras do seu testemunho pelo Seu Deus? E Íngrid, sem titubear um só segundo após minha pergunta, respondeu que, não só reafirma; ainda as reforça.

O Deus do saudoso Rev. Heinz Neumann, e de sua amável esposa (ainda viva) dona Virgínia, foi o Deus de Íngrid naquela tarde/noite sombria na via Dutra, no hospital em Cruzeiro, no Centro Hospitalar Albert Sabin, naqueles duros dias de adaptação à nova vida, nas crises que vieram à mente e à lembrança, e também nos novos desafios, como tem sido até hoje. Íngrid aprendeu como poderia ser útil a crianças especiais, a adultos especiais, a pessoas em crise, a tanta gente… Habilitou-se na OAB-PE, e advoga para portadores de necessidades especiais; ensinou dezenas de meninos e adolescentes; ensinou no seminário (eu mesmo fui seu aluno de Sociologia Geral); assumiu uma destacada função na Visão Mundial, mediante convite do Pastor Manfred Grellert; e sua vida, orbitando em busca da plena percepção do “centro da vontade de Deus”, se tornou em bênção inspiradora para muitos. A maneira como ela ampliou sua percepção de como poderia ser útil a outrem começou com um inusitado convite de outro pastor: “Íngrid, nós precisamos que você ajude o nosso filho com reforço escolar, por favor!”. Era o pastor Frans Leonard Schalkwijk, reitor do seminário onde lecionava seu pai (“Se algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá, liberalmente, e nada lhes impropera, nada lhes lança no rosto, em censura, Tiago 1.5). Depois, pelo mesmo pastor, veio o convite para lecionar no seminário. Talvez, o mais notável projeto em que Deus envolveu Íngrid foi o CERTO-Centro Evangélico de Reabilitação e Terapia Ocupacional. Conheci a instituição. No mesmo dia, recentemente, em que falei com Íngrid, falei também com o irmão Silvanio. Mas, aí, já é prá vir uma outra história – um outro Arauto de Vida!

Entre as pessoas que Íngrid conheceu, naqueles anos de duras provas de recondução ao ‘centro da vontade de Deus’, estavam Lizete e Marize. A propósito, quem sabe, também serão, entre nós, “Arautos de Vida”? De Marize, recebeu Íngrid um texto que ela mesma havia antes recebido:

Quando alguém se aproxima de você triste, desesperado, por não ter um castelo, com um jardim somente com flores, transmita você, com seu sorriso, esta mensagem – A vida é uma dádiva de Deus, é um jardim com muitas flores; só que, entre as flores aparecem os espinhos, os quais, por várias vezes, nos ferem e magoam. Nunca deixe de existir!”. Foi a partir desta amizade que surgiu o CERTO. Hoje, Íngrid conserva a mesma certeza de quarenta anos atrás: quando o Filho do homem – Jesus Cristo – se manifestar, para o juízo e a re-criação de todas as coisas, ela terá um corpo ressurreto, sem defeito. Por toda a eternidade, não mais dependerá de uma cadeira de rodas, nem de muletas canadenses, nem nada. Será nova, inteiramente nova criatura, pelo poder de Deus, em Cristo Jesus.  
Quando Noé, aquele, do Dilúvio, soltou a pomba da janela da arca, sobre as águas da inundação que destruiu a terra uma vez, voltou a pomba com um raminho de oliveira no bico. Isto significou que a vida estava recomeçando. A história completa está nos capítulos 6 a 9 de Gênesis, na Bíblia. E Deus mesmo prometeu: O DILÚVIO NÃO SERÁ PARA SEMPRE. Há vida para depois do Juízo: a vida eterna dos remidos!

Concordemente com a nossa mensagem, nosso hino-tema é também mensagem de arautos de vida. 

Mesmo que o 'dilúvio' seja longo e hostil, não vai chover para sempre; há vida, depois dele… 

Nosso hino temático também fala disto. Na voz suave de Cynthia Clawson.

IT   WON’T    RAIN   ALWAYS…  (1981)
NÃO VAI CHOVER PARA SEMPRE…
Letra : Gloria Gaither (1942…)
Música : Bill Gaither (1936…) & Aaron Wilburn (1950…)

Someone said that in each life:
Alguém disse que em cada vida
Some rain is bound to fall:
Alguma chuva é fadada a cair
And each one sheds his share of tears:
E cada um entorna seu tanto de lágrimas
And trouble troubles us all:
E problemas afetam a todos nós
But, the hurt can't hurt forever:
Mas, a dor não pode ferir para sempre
And the tears are sure to dry…:
E as lágrimas por certo hão de se estancar… 

And it won't rain always:
E não há de chover para sempre
The clouds will soon be gone:
As nuvens logo se dissiparão


The sun that they've been hiding:
O sol que elas têm ocultado
Has been there all along…:
Tem estado lá, em todo o tempo…
And it won't rain always:
E não há de chover para sempre
God's promises are true!:
As promessas de Deus são reais
The sun's gonna shine in His own good time:
O sol há de brilhar no tempo próprio Dele [Deus]
And He’s gonna see you through!…:
E Ele vela por ti…
The sun's gonna shine in God's own good time:
O sol há de brilhar no tempo próprio Dele [Deus]
And He will see you through!…:
E Ele há de velar por ti! …

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Abraços
Ulisses

Notas das citações bíblicas:
ACF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional